Mostra explora a influência da estética chinesa

Com proporções equivalentes ao gigantismo de seu território, sua população e reserva cambial – 9,6 milhões de km², quase 1,5 bilhão de habitantes e perto de US$ 3 trilhões -, a República Popular da China é reverenciada numa das maiores exposições já realizadas pelo Metropolitan Museum, em NY. China: Through the Looking Glass explora a influência da estética do país na imaginação de designers de moda no Ocidente, impressiona como uma viagem cinematográfica e se impõe em 2.800 m² de galerias em três andares.

No total, são cerca de 150 trajes e acessórios criados por mais de 40 estilistas. As peças principais estão rodeadas por incontáveis objetos do acervo do Met, muitos milenares, escolhidos para contextualizar o impacto da arte e da cultura chinesas sobre a moda ocidental desde meados do século 18. Aberta ao público na quinta, 7, China: Through the Looking Glass fica em exibição até 16 de agosto.

Originalmente pensada como uma das exposições que marcam, este ano, o centenário do Departamento de Arte Asiática do Met (que abriga a maior coleção deste segmento no Ocidente, com mais de 35 mil objetos), a mostra ocuparia as duas galerias do Costume Institute, o centro de moda do museu, e três das 53 galerias do departamento. Mas cresceu tanto que acabou tomando 15 galerias – o triplo do espaço normalmente ocupado pelo Costume Institute nas duas exposições especiais de moda que promove anualmente. Além do material dos dois principais grupos curatoriais envolvidos nessa produção, China: Through the Looking Glass exibe objetos cedidos por mais de 60 museus e designers asiáticos, europeus, da Austrália e da Nova Zelândia.

Filmes

Assim como a realidade na tela dos cinemas, a exposição não é exatamente sobre a China, “mas uma fantasia coletiva a respeito dela”, explica Andrew Bolton, curador do Costume Institute. Por isso, ele quis dar ao visitante uma sensação parecida com a da personagem de Lewis Carroll no livro Alice Através do Espelho – e o Que Ela Encontrou Lá, onde buscou o título dessa enorme produção. Para tanto, a mostra teve direção artística do cineasta chinês Wong Kar-wai, premiado no Festival de Cannes de 1997 pelo filme Felizes Juntos.

“Os filmes geralmente são a primeira lente através da qual designers ocidentais de moda encontram imagens do vestuário chinês”, diz o curador.

Cada galeria da exposição exibe trechos de filmes relacionados ao que contém, salientando a importância do cinema na criatividade de estilistas como Balenciaga, Alexander McQueen, Coco Chanel, Christian Dior, Yves Saint Laurent, John Galliano, Paul Poiret, Jean Paul Gaultier, Vivienne Westwood e mais outros tantos.

Na que é devotada à China Imperial, por exemplo, se projetam cenas de O Último Imperador, de Bertolucci. Ali, a peça central é o robe de dragão que pertenceu a Pu Yi, o personagem real daquela história. A roupa foi usada pelo pequeno imperador logo depois de ele ser coroado, aos 2 anos, e é uma das obras-primas cedidas para a exposição pelo Museu do Palácio, de Pequim.

A instalação toda se desenrola como uma série de stills, as fotos feitas num set de filmagem para promoção. Won não só editou todos os filmes exibidos como criou trilha sonora para a mostra também baseada no cinema. As salas foram desenhadas com recursos cinematográficos, como o uso de portas e corredores para silhuetar os trajes e enfeites de cabeça criados pelo inglês Steven James.

Com várias entradas e ocupando todo o Costume Institute, no subsolo, e todas as galerias chinesas do Departamento de Arte Asiática nos dois primeiros andares do museu, a sequência de salas cria um ambiente desorientador como o mundo que Carroll imaginou para sua menina. O ritmo entre elas é dado por efeitos de iluminação de Philippe Le Sourd, parceiro de Won em vários filmes: em algumas, como as dedicadas à seda, caligrafia e porcelana azul e branca, ele é intimista; em outras, como nas áreas que exibem criações inspiradas na Ópera de Pequim, é dramático e teatral.

De Qing a Mao

A influência do lado oriental do mundo sobre a moda no Ocidente já podia ser percebida no século 1.º, quando brotou o comércio de seda entre a China e o Império Romano. Mas a exposição enquadra seu foco no ponto alto da chinoiserie, a imitação de estilos chineses feita na arte ocidental, em meados do século 18. “Artistas fazem conexões, não se inibem por barreiras de tempo, espaço ou cultura. O desafio foi descobrir nos objetos a fonte de inspiração deles”, comenta Maxwell Hearn, curador do Departamento de Arte Asiática.

Essa inspiração na longa história chinesa gravita quase sempre em torno da dinastia Qing (1644-1911), da República da China (1912-1949), e da atual República Popular da China. Os respectivos símbolos de cada uma dessas três épocas são o robe Manchu, o moderno vestido qipao (pronuncia-se ‘tchipao’), e o prático e funcional terno Zhongshan (cidade da província de Guangdong). Este ficou conhecido no Ocidente como o terno Mao por ser o inconfundível uniforme de Mao Tsé-tung, o líder comunista chinês.

Mas, segundo observa Andrew Bolton, os estilistas ocidentais não reproduzem cópias ao citar objetos ou trajes chineses no desenho de suas criações. Como no mundo imaginário encontrado no espelho pela Alice da história de Carroll, compara o curador, eles refletem as tradições artísticas e culturais do país “e as reinterpretam por meio de construções pós-modernas aparentemente paradoxais”. Como extensão exótica de um país fictício, a China dos estilistas ocidentais de moda existe apenas na imaginação deles.

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