As últimas palavras do enigmático Kurz, no livro “O Coração das Trevas”, do polonês Joseph Conrad, ao sentir a aproximação do inglês Marlow com a vela (física e metaforicamente) iluminadora da civilização não foram “mehr licht” (mais luz) como as de Goethe, mas “o horror! o horror!”. O que teria visto Kurz? Seu passado como deus dos canibais no Congo belga ou o próprio futuro no inferno? Talvez ambos. No mesmo lugar onde reside o horror também pode viver a beleza. É esse movimento pendular entre a luz e as trevas que segue a exposição “Extremos: Fotografias na Coleção da Maison Européene de la Photographie – Paris”, que o Instituto Moreira Salles (IMS), em parceria com o museu parisiense, abre hoje, às 19h30.

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São 100 imagens radicais de grandes mestres do passado, que variam da bela paisagem de um povoado do Novo México pelo norte-americano Ansel Adams (1902-1984) ao horror apocalíptico da coluna de fumaça do cogumelo atômico que atingiu mais de 6 quilômetros de altura às 8h17 da manhã de 6 de agosto de 1945. Foi nesse dia que o Enola Gay despejou sobre Hiroshima a bomba que destruiu a cidade japonesa. A foto, a propósito, foi tirada pelo sargento George Robert Caron (1919-1995), tripulante do bombardeiro B-29 e primeiro homem na face da Terra a testemunhar que o apocalipse bíblico não foi um delírio do apóstolo João na ilha de Patmos.

Outra foto de Hiroshima, de Shomei Tomatsu, que mostra um relógio derretido pela explosão, foi comprada pela Maison Européene de la Photographie especialmente para a mostra. “Uma exposição que trata de extremos não poderia deixar de incluir a destruição de Hiroshima ou o primeiro passo do homem na Lua, gestos radicais então sem registro entre as 25 mil fotografias do museu parisiense”, justifica o fotojornalista Milton Guran, coordenador do encontro internacional de fotógrafos FotoRio, que ajudou o diretor da Maison Européene de la Photographie, Jean-Luc Monterosso, na curadoria da mostra, montada com a colaboração do coordenador de fotografia do IMS, Sergio Burgi.

O visitante da mostra do IMS tem, de fato, muito o que escolher. As fotos selecionadas pelos curadores cobrem 65 anos de produção e trazem os maiores nomes da fotografia mundial, de Robert Frank e Elliott Erwitt, que registraram flagrantes da segregação racial norte-americana nos anos 1950, ao pós-moderno Andres Serrano, que fotografa cadáveres e assinou, em 1987, a polêmica foto Piss Christ, imagem de um crucifixo de plástico mergulhado na urina do fotógrafo. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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EXTREMOS – Instituto Moreira Salles (Rua Piauí, 844). Tel. (011) 3825-2560. 13/19h (sáb. e dom., 13h/ 18h; fecha 2ª). Grátis. Até 27/11. Abertura hoje, às 19h30, para convidados.