Mostra em SP reúne 111 obras do alemão Walter Lewy

De forma um tanto perversa, a história da arte tende a concentrar sua atenção sobre poucas figuras, perpetuando mitos e deixando pelo caminho trajetórias importantes, seja pela qualidade individual da obra, seja porque ajudam a iluminar – por sintonia ou contraste – a produção de um período. Felizmente, de vez em quando se resgatam algumas dessas figuras esquecidas, como o pintor Walter Lewy, cujo trabalho é revisto, desde sábado, em exposição no 2.º andar da Estação Pinacoteca, em espaço ocupado pela Fundação Nemirovsky.

Por intermédio de 111 pinturas, gravuras e desenhos, a mostra refaz a trajetória trilhada pelo artista alemão, de origem judaica, desde a sua chegada ao Brasil em 1938, fugindo da brutalidade nazista, até as últimas pinturas, feitas pouco antes de sua morte, em 1995, destacando sua vocação surrealista.

Inicialmente ligado ao movimento da Nova Objetividade, na Alemanha, Lewy afasta-se cada vez mais do caráter de denúncia desse movimento e passa, a partir de sua chegada ao País, a explorar um repertório de imagens de caráter onírico e simbólico que, segundo ele, lhe abriam um leque de inúmeras possibilidades.

Dentre os elementos mais recorrentes em sua produção estão as plantas suculentas, como cactos (já presentes no único desenho do período alemão presente na exposição), as pedras (que assumem diversas formas, de planetas a pequenas gemas preciosas), chaves e fechaduras (como símbolos do masculino e feminino), ou a figura sensual de uma mulher azul, representando sua esposa Dirce, que conhece por intermédio de Di Cavalcanti, de quem havia sido modelo.

Definindo o surrealismo como “a pintura do absurdo, do impossível, do paradoxo, do fantástico”, ele permanece ao mesmo tempo fiel a esse universo metafísico e conectado com os movimentos mais amplos da arte internacional, como é possível ver, por exemplo, nos trabalhos dos anos 1950 e 1960, nos quais mantém intenso diálogo com o abstracionismo e as formas geométricas e sinuosas da arquitetura modernista.

Como contam o idealizador da mostra, Claude Martin Vaskou, e a curadora Daisy Peccinini, Lewy mantinha fortes vínculos com a classe artística brasileira: conviveu com figuras como Tarsila do Amaral, Di Cavalcanti (com quem vai à Bahia nos anos 1970 e lá absorve toda uma iconografia baseada nos símbolos do candomblé), Francisco Rebolo, Clóvis Graciano e Sergio Milliet, entre outros; esteve próximo do Grupo Santa Helena; e participou dos movimentos de fundação do Museu de Arte Moderna e da Bienal de São Paulo, onde expôs algumas vezes.

A ampla produção (foram repertoriados mais de cinco mil trabalhos), a presença em acervos importantes como os do MAC e MAM, as premiações e a ampla teia de relações pessoais não impediram que a obra de Lewy caísse no esquecimento por um longo período de tempo, provavelmente em decorrência da rejeição à pintura figurativa, de cunho surrealista, das últimas décadas. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

WALTER LEWY: MESTRE DO SURREALISMO NO BRASIL

Estação Pinacoteca (R. General Osório, 66). Tel. 3335-4990. 3ª a dom., 10 h/ 18 h. R$ 6 (sáb. grátis). Até 18/8.

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