Décio de Almeida Prado não teve receio em tachá-lo de “homem de teatro”. A afirmação não é incorreta. E faz justiça ao alcance e à amplitude de Flávio Império (1935-1985) nos palcos brasileiros. Mas certamente soa imprecisa, incapaz de dar conta de seu sem-número de talentos. Quanto mais se examina a trajetória do artista, mais difícil parece a tarefa de encerrá-lo em um rótulo único, de aprisioná-lo em uma só definição. Esse homem múltiplo, cheio de ideias, versava sobre os mais diversos campos e temas. Atuou como arquiteto e professor. Pintor e artista gráfico. Desenhista e diretor. Cenógrafo e figurinista.

continua após a publicidade

A exposição que o Itaú Cultural abre a partir de hoje não tem a pretensão de esgotar ou examinar detidamente qualquer uma dessas facetas. Assume que ele não foi um. Foi muitos. E se propõe a examinar uma arte que Império explorou em várias épocas e para tantos usos: a serigrafia. “Ela está presente em toda a sua obra”, aponta Vera Hamburger, organizadora da mostra e sobrinha do artista.

De fato, Império impregnou com imagens serigráficas boa parte de sua produção. Em cenários de espetáculos como “Othelo” (1982), usou panos esticados e coloridos para lembrar ondas do mar. Nas telas que fez, valia-se, quase invariavelmente, de técnicas mistas, mesclando o traço do desenho ou da pintura a óleo com estampas. “É curioso porque a serigrafia parte de um princípio de repetição que ele nunca incorporou. Cada nova impressão traz uma nova obra”, considera a curadora.

A partir de seu vasto acervo, que inclui mais de 1,5 mil exemplares de artes plásticas e cerca de mil desenhos de figurinos e cenários, foi selecionada uma pequena parcela. Tratadas como obras – e não apenas como suportes – estarão expostas 16 telas originais de serigrafia. Todas impregnadas com vestígios de tintas e lavagens, rastros do tempo. “Não é uma exposição de peças acabadas. Mostramos as obras do meio, que carregam a marca do trabalho criativo que ele fez”, completa Vera.

continua após a publicidade

Programação – Uma programação paralela de filmes e debates completa a exposição. Amanhã, o diretor Zé Celso Martinez Corrêa, o cenógrafo Marcio Medina e a coreógrafa Susana Yamauchi discutem o papel de Flávio Império nas artes cênicas. Como cenógrafo, ele participou de espetáculos marcantes do Teatro de Arena e do Oficina. Caso de “Os Fuzis da Mãe Carrar” e de “Roda Viva”. Sexta-feira, Carlos Alberto Martins e Sérgio Ferro – que trabalhou ao lado de Império e de Rodrigo Lefèvre – discutem seu legado como arquiteto.

No fim de semana, o ciclo abarca ainda suas contribuições nas artes visuais e no ensino. Além de exibir trechos das imagens que o artista captou em super-8, a mostra prevê um ciclo de cinema. O longa “Doces Bárbaros” – do qual Império participou como cenógrafo – será o primeiro a ser exibido. Também estão previstas sessões de outros filmes, entre eles o documentário “Flávio Império em Tempo”. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

continua após a publicidade

Ocupação Flávio Império – Itaú Cultural (Av. Paulista, 149). Tel. (011) 2168-1776. 9h/20h (sáb. e dom., 11h/20h). Grátis. Até 17/7. Abertura hoje, 20h, para convidados.