Dedicado a investigar o hiato na fotografia experimental brasileira registrado entre o advento da ditadura militar (1964) e a abertura política (1985), o fotógrafo e curador Eder Chiodetto acabou selecionando imagens da Coleção Itaú de Fotografia que, expostas desde sábado, no Instituto Tomie Ohtake, revelam a vigorosa retomada da experimentação com o fim da censura no Brasil, em 3 de agosto de 1988. Exibida inicialmente na Maison Européenne de la Photographie, em Paris, centro de pesquisa da fotografia contemporânea com um acervo de 20 mil fotografias, livros e vídeos, a mostra já passou pelo Rio de Janeiro e segue depois de São Paulo para Belo Horizonte (Palácio das Artes, em junho) e Belém (Casa das Onze Janelas, em outubro).
A exposição apresenta 94 fotos, tanto dos pioneiros da fotografia experimental do Brasil (José Oiticica Filho, Thomaz Farkas) como de contemporâneos (Miguel Rio Branco, Mauro Restiffe). Ela se diferencia das duas mostras anteriores, segundo o curador, por estabelecer novas relações entre os representantes da vanguarda histórica e a geração atual (Rosângela Rennó, Chris Bierrenbach), que, diz Chiodetto, parece mais livre para criar sem seguir dogmas ou se restringir ao aspecto documental da fotografia.
O Brasil começou a experimentar com fotografia só no fim dos anos 1940, quando as vanguardas europeias (os dadaístas e os surrealistas, principalmente) já faziam uso da fotografia como linguagem artística de sofisticada sintaxe. Essa história, em São Paulo, começa em 1949 com o Foto Cine Clube Bandeirantes, do qual participavam nomes como Thomaz Farkas e German Lorca.
Geraldo de Barros, que viria a ser um nome de referência da arte concreta brasileira, seguindo o caminho desses pioneiros, começou a experimentar com fotocolagens e intervenções diretas no negativos entre o final dos anos 1940 e o início da década seguinte, criando séries como Fotoformas, hoje mundialmente conhecida.
“Essa prática experimental, forte entre os anos 1940 e 1960, foi interrompida durante a ditadura e temos poucos exemplos de ousadia na área no período militar”, diz Chiodetto. Da época, ele selecionou uma foto surrealista do paulista Boris Kossoy, 72, em que um maestro rege túmulos num cemitério. Outro exemplo de imagem conceitual é a da série “Para Um Jovem de Brilhante Futuro”, do carioca Carlos Zílio, 69, que mostra um executivo de pouca experiência às voltas com os fios do telefone de seu escritório em pleno Brasil desenvolvimentista. Zílio prolongou a série com performances e objetos, um deles ícone do período – uma maleta de executivo cheia de pregos.
Outros fotógrafos realizaram trabalhos importantes no período cuja abordagem, mais antropológica e menos experimental, causaram impacto na época. É o caso da suíça Claudia Andujar e seu histórico registro do cotidiano dos índios ianomanis. Ou do baiano Mário Cravo Neto (1947-2009), que deixou como legado algumas das melhores imagens da cultura afro-brasileira. “A partir da redemocratização do País, os artistas experimentais retomam os preceitos do modernismo tardio, uma vez que a fotografia foi a única das artes que não esteve presente na Semana de 22.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
COLEÇÃO ITAÚ DE FOTOGRAFIA
Instituto Tomie Ohtake (Rua Coropés, 88, tel. 2245-1900). 3ª a dom., 11h/ 20h. Até 19/5.