O reconhecimento, diz Caio Reisewitz, está vindo no momento certo. O artista, que trabalha com fotografia, realiza, até 7 de setembro, uma grande mostra individual em um dos templos do gênero fotográfico, o International Center of Photography (ICP) de Nova York. Não se trata de uma retrospectiva, mas há oito anos o curador da instituição, Christopher Phillips, queria promover uma ampla apresentação da produção do brasileiro, “de reputação internacional”, escreve, no renomado centro americano.

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A primeira fotografia – e a mais antiga – da exposição é Butantã (2003), trabalho que sintetiza algumas características da obra de Caio Reisewitz. “Pensei essa imagem em minha cabeça e fui atrás dela”, afirma o paulistano, de 47 anos, no ICP. “Os gringos poderiam pensar: O que é isso? Prédios dentro da floresta? É esse truque que eu queria captar.” De fato, um conjunto de edifícios parece se erguer de um horizonte verde e denso de árvores nesta criação, de grande escala (180 cm x 282 cm), a partir de um ângulo da realidade.

É o campo fotográfico que permite a Reisewitz, como ele diz, explorar as bordas ou o limite da dúvida, através de sua obra. “Trabalho muito na margem da representação do real, no caminho de montar uma imagem que parece real, mas é artificial, ou o contrário”, explica o artista, apontando, na mostra, uma peça impressionante, Boituva (2008), clique aproximado de um pedaço de terra vermelha de barranco, no qual repousa uma folha seca. O tamanho da fotografia (232,3 cm x 180 cm) contribui para a estranheza – e beleza – do motivo.

Nesse sentido, a exposição no ICP, na verdade, destaca esse terreno da produção de Caio Reisewitz em que ele “assume” o duvidar. Boa parte da mostra apresenta uma produção mais recente do artista, baseada no desenvolvimento – ora mais, ora menos explícito – de colagens. “Para mim, a elaboração dessas obras está muito mais relacionada à pintura”, diz.

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Em um dos trabalhos expostos, por exemplo, plantas transbordam, artificialmente, do interior da Casa das Canoas de Oscar Niemeyer, no Rio de Janeiro. É uma imagem montada e essa característica é evidente – entretanto, não é sempre que temos essa certeza ao longo do percurso da exibição em Nova York. Basta chegar perto de outras obras, como Sucupira (2011) e Paretinga (2010), para identificarmos, em meio ao registro de matas exuberantes, fragmentos de imagens da cidade de Goiânia.

“A fotografia é muito poderosa, ela é um objeto que representa uma realidade, mas que nesta dimensão se torna bombástica”, define o artista fotógrafo, considerando ser esta a razão de a potência do gênero fotográfico ser tão reconhecida atualmente “dentro da arte contemporânea”.

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Poder

Serras e florestas – a natureza – são temas recorrentes na produção de Caio Reisewitz, mas a arquitetura também se faz presente como um dos campos de interesse do brasileiro. Tanto que estão na entrada da exposição criações nas quais ele ressalta a grandiosidade estática e imponente de interiores de construções brasileiras como o Real Gabinete Português, a Igreja São Francisco de Assis de Ouro Preto (representada por seu teto, pintado por Mestre Ataíde) e o Palácio do Itamaraty em Brasília. “São obras que apresentei na Bienal de Veneza, sobre as ‘Utopias Ameaçadas’, que era a representação do poder do Brasil através da arquitetura”, conta o artista, representante do País na 51.ª edição da mostra italiana, em 2005.

É inegável que o trabalho de grande escala de Reisewitz, com formação na Alemanha, tenha sofrido a influência da estética e do romantismo alemães, mas desde sempre interessaram ao curador do ICP as qualidades que diferenciam o paulistano dos europeus. Próximo (intimamente) de fotógrafos como Andreas Gursky, Thomas Struth e Candida Höfer, o brasileiro considera que sua conduta é própria. Ele agrega o truque (“trick”, diz, em inglês) à beleza. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.