No começo foram os italianos, seguidos por portugueses, sírios e libaneses. Em seguida vieram os judeus e o bairro nascido no começo do século 20 ao lado da Estação Ferroviária da Luz, das antigas olarias e do Rio Tietê, aos poucos se tornaria o preferido daqueles que chegavam a São Paulo em busca de trabalho. Imigrantes que criaram uma identidade visual da região e por lá deixaram suas marcas.

continua após a publicidade

Um pouco dessa história é apresentada na mostra “Bom Retiro e Luz: Um Roteiro, 1976-2011”, que começa hoje no Centro de Cultura Judaica. Pensada e criada por Benjamin Seroussi, diretor de programação do Centro e pelo curador da Pinacoteca do Estado de São Paulo, Diógenes Moura, a exposição parte da série homônima de imagens feitas por Cristiano Mascaro em 1976, a pedido da própria Pinacoteca: “Foi uma das minhas primeiras experiências como fotógrafo de cidade depois de sair do jornalismo”, conta Mascaro. “Partiu de uma encomenda feita pela Pinacoteca que por meio desse trabalho de documentação iniciava a integração do museu com o Bom Retiro.” Aliás, essas foram as primeiras fotografias que entraram para o acervo da Pinacoteca.

Trinta e cinco anos depois, esse projeto de documentação é retomado por iniciativa do Centro: “Na verdade, partimos de uma ideia muito simples, queríamos mostrar a cultura judaica sob uma perspectiva cultural, tentar fazer uma antropologia visual do bairro que, embora reconhecido como tradicional judaico também se funde com a presença de comerciantes coreanos, trabalhadores bolivianos, dando uma ideia cosmopolita a região”, diz Seroussi.

Não à toa o curador convidado foi o Diógenes Moura, que há anos circula pela região: “Para criar essa narrativa, falar sobre o fluxo de identidade dos habitantes, convidei o coletivo Cia de Foto e os fotógrafos Bob Wolfenson que nasceu e morou parte de sua vida no Bom Retiro, e a fotógrafa Marlene Bergamo”, explica ele durante a montagem da exposição.

continua após a publicidade

O resultado é um painel variado, encontros de olhares que criam a poética da cidade. Os retratos e as ruas registradas por Mascaro na metade dos anos 1970 são reencontradas hoje pelas lentes de Marlene Bergamo, que optou por fotografar o bairro à noite, relembrando, pela estética, os antigos filmes noir. São registros em branco e preto, imagens fugidias que mostram momentos de solidão, marcas de alguém que já passou por ali: “Gosto muito de trabalhar no limite da luz, com pouca luz. Apresentar essa imagem que não é explícita, que fica entre o sonho e a realidade, o nada e o óbvio”.

Já o coletivo Cia de Foto preferiu partir para outra proposta. Em vez de fotografar o bairro, preferiu pesquisar documentos do Arquivo Histórico Judaico Brasileiro e, de posse de alguns registros, recriou uma história com essas cenas da vida privada, com o retrato dos álbuns de família e os momentos de intimidade. Imagens que sugerem e permitem ao espectador formar uma ideia de como era o passado na região. Já as fotografias do Bob Wolfenson são memórias particulares de alguém que viveu até os 22 anos no Bom Retiro e se acostumou com os cheiros, os barulhos e as cores do local. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

continua após a publicidade

Bom Retiro e Luz: Um Roteiro, 1976-2011 – Centro da Cultura Judaica (R. Oscar Freire, 2.500). Tel. (011) 3065-4333. 12 h/ 19 h (dom., 11 h/ 19 h; fecha 2ª). Grátis. Até 2/10.