Havia bons filmes concorrentes na Mostra Aurora – hoje, a principal vitrine da produção de cinema de invenção no País -, mas o júri jovem e o da crítica convergiram em selecionar “Os Residentes”, de Tiago Mata Machado, como o grande vitorioso da 14ª Mostra de Cinema de Tiradentes. O evento terminou sábado à noite, depois de mais de uma semana de homenagens, debates e projeções. O diretor mineiro mal terá tempo de saborear o sucesso. Mata Machado embarca em seguida para a Europa, onde “Os Residentes” integrará a programação do Fórum no Festival de Berlim, que começa dia 10.
O melhor longa do júri popular foi “Solidão e Fé”, de Tatiana Lohman, exibido no Cinema da Praça, ao ar livre. O tempo colaborou. Criada pela Universo Produção há 14 anos, a Mostra de Tiradentes consolidou seu prestígio nacional e internacional nos últimos quatro anos justamente com a Mostra Aurora, que tem curadoria de Cleber Eduardo. A Universo abriu essa importante janela para novos realizadores que buscam desenvolver outra linguagem para o cinema brasileiro.
Mas Tiradentes não se fecha a outros tipos de cinema, nem ao mal falado cinema de mercado. A mostra presta homenagens – este ano, ao ator Irandhir Santos e ao diretor Paulo Cezar Saraceni – e, por isso mesmo, o espectro das projeções contemplou até o maior fenômeno de bilheteria da história do País, “Tropa de Elite 2”, de José Padilha. Embora tenham passado rapidamente pela cidade, a ministra da Cultura, Ana de Hollanda, e a secretária do Audiovisual, Ana Paula Santana, não chegaram a discutir as grandes questões da cultura nem do cinema, especificamente. Mas os debates – estéticos e políticos – foram ricos e foi tirada a Carta de Tiradentes, lida na sexta-feira à tarde pelos atores Irandhir Santos e João Miguel.
Assinada por entidades e autores, a Carta visa garantir um espaço para o cinema de experimentação, que Tiradentes celebra. Assim como esse cinema encontrou o canal na iniciativa da Universo Produção, também necessita de incentivo para chegar ao mercado. Mesmo que “Os Residentes”, o vencedor deste ano, não vá fazer o público de “Tropa 2” – os fabulosos 11 milhões de espectadores -, é um filme que atinge um segmento e precisa ser contemplado. O apoio à distribuição e exibição de filmes pequenos, autorais, foi um tema premente em Tiradentes.
“Os Residentes” concorreu em Brasília, no fim do ano. No debate em Tiradentes, o diretor lembrou que, a título de apresentação, havia dito em Brasília que era autor de uma tese sobre Jean-Luc Godard. Pronto, bastou para que seu filme e ele fossem rotulados como ‘subgodardianos’. Não é o caso e “Os Residentes” sai agora aureolado de Tiradentes para tentar seduzir plateias internacionais em Berlim. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.