No livro “Landscape into Art” (A Paisagem na Arte), o historiador de arte inglês Kenneth Clark fala das muitas tentativas fracassadas de se pintar a noite, diz o artista paulistano Rodrigo Andrade. Na Galeria Millan, onde ele inaugura a mostra Velha Ponte de Pedra e Outras Pinturas, todas as telas são paisagens, umas mais noturnas, outras menos, em que uma massa espessa de tinta preta torna-se a matéria principal das obras.

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Rodrigo Andrade afirma que mesmo que as gravuras de Goeldi sejam “referência da adolescência”, a noite não foi algo que ele procurou para criar suas recentes pinturas – “parece pragmatismo, mas foi com ela que minha pintura deu certo”. O desafio da noite, afinal, o fez voltar de forma experimental e contemporânea à figuração, depois de mais de uma década se dedicando à abstração.

Foi na 29.ª Bienal de São Paulo, no ano passado, que Andrade exibiu pela primeira vez as obras de sua pesquisa de “matérias noturnas”. O retorno foi intenso, uma revelação para quem acompanhava suas pinturas com blocos de tinta geométricos e coloridos realizadas não apenas sobre telas brancas, mas sobre paredes de espaços públicos. Mas o artista não abandonou a abstração, frisa, considera que tem neste momento “dois corpos de trabalho”. “A relação com a figuração é antiga e básica”, comenta. Na Galeria Millan, ele expõe apenas as paisagens criadas em 2011, um conjunto delas, numa escala maior do que as exibidas na Bienal.

As pinturas são feitas a partir de fotografias que o próprio pintor vem realizando – na mostra estão as de paisagens captadas na Escócia, no interior de Minas e em Ubatuba. “Desde 2006 venho colecionando imagens que faço e percebi que muitas delas eram noturnas”, conta. Ele, que começou sua trajetória na década de 1980 no grupo Casa 7, concorda que há proximidade de suas obras com a produção da nova geração de pintores – muitos deles com os quais tem diálogo – que usam a imagem fotográfica como base.

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As telas de Andrade, agora, têm a materialidade espessa que é característica aos trabalhos do artista, mas elas lidam com um jogo ilusionista entre o fotográfico e ter perspectiva. O preto delas (e em algumas, já com variações de matizes) “não é só escuridão”. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Rodrigo Andrade – Galeria Millan (Rua Fradique Coutinho, 1.360). Tel. (011) 3031-6007. 10 h/19 h (sáb., 11 h/17 h; fecha dom.). Grátis. Até 1º/10. Abertura hoje, às 20 h.

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