Embora a Mostra Internacional de Cinema já esteja batendo nos 30 anos, há um aspecto no qual ela não evolui. Leon Cakoff e Renata Almeida, o criador e a diretora do evento, fazem questão de manter amador todo o cerimonial público da Mostra. Abertura, encerramento, debates, tudo é sempre muito informal e, às vezes, sugere uma festa de família, ou de escola. O encerramento da 28.ª Mostra BR de Cinema, na quinta-feira à noite, manteve a característica, mas desta vez o lado ?comédia de erros? foi menor. Foi o encerramento mais emotivo da Mostra, em muitos anos.
Boa parte dessa emoção passou pelo show delicado de Jane Birkin, mas antes disso houve momentos como o da homenagem a Manoel de Oliveira. Cakoff anunciou o novo troféu criado pela Mostra. Chama-se Humanidade e foi instituído para celebrar artistas que contribuem para a melhoria do gênero humano. Os cínicos vão achar demodê, dizendo que o bom e velho humanismo é nostalgia de saudosistas. Não é para o público da Mostra. Cacá Diegues, o diretor brasileiro integrante do júri, foi chamado para entregar o prêmio. Ele citou uma frase do fim de O Quinto Império, quando o sapateiro-bruxo dialoga com Dom Sebastião. Ele diz que há homens que conseguem sonhar os sonhos de outros homens. Cacá disse que, com essa frase, Oliveira criou uma metáfora sobre o papel do artista e sua obra, em particular. O cinema de Oliveira sonha os sonhos dos cinéfilos que tanto o admiram. E Cacá anunciou que o prêmio ia para o grande diretor português de 96 anos.
Oliveira subiu ao palco. Estava emocionado, mas não deixou de fazer humor. Disse que tem recebido tantos carinhos e tantas homenagens em São Paulo que está ?a pensar em mudar-se para cá?. Solicitado pelo âncora da cerimônia, Sérgio Groisman, que queria saber se a 29.ª Mostra já está em andamento, Cakoff confirmou que sim e anunciou que, no próximo ano, será lançado o livro em homenagem justamente a Oliveira, mestre da palavra e do tempo.
Depois disso, foram anunciados os prêmios da 28.ª Mostra – veja quadro. Em seguida, começou o show de Jane Birkin. Ela sussurrou, mais do que cantou, algumas frases de Leãozinho, de Caetano Veloso, que decorou foneticamente para gravar no álbum Arabesque (e na quinta leu num cartaz pregado no chão do Sesc Pinheiros). O tom do espetáculo Arabesque saiu todo daí, dessa maneira de sussurrar as letras das canções, criando um clima de intimismo e cumplicidade com o público. Jane virou mito erótico, mas no palco é o avesso disso.
Premiados da 28.ª Mostra de Cinema de SP
Prêmios do Público
Melhor Filme Estrangeiro – Ficção
Tartarugas podem voar
de Bahman Ghobadi – Irã, AfeganistãoMelhor Filme Brasileiro
Feminices, de Domingos De Oliveira
Melhor Documentário Brasileiro
Fábio Fabuloso de Pedro Cezar, Ricardo Bocão e Antonio Ricardo
Melhor Documentário Internacional
Memória del Saqueo de Fernando Solanas. Argentina, França, Suíça.
Prêmio Da Critica
Mal dos Trópicos de Apichatpong Weerasethakul (118?). Tailândia, França, Alemanha, Itália
Menção especial para:
La Niña Santa de Lucrecia Martel . Argentina, França, Itália.
Prêmios Do Júri
Menções Especiais Do Júri
Tartarugas podem voar de Bahman Ghobadi. Irã, Afeganistão.
Nas suas mãos de Annette K. Olesen. Dinamarca.
Grande Prêmio Do Júri
Maria cheia de Graça de Joshua Marston . EUA, Colômbia
Prêmio do Júri – Melhor Documentário
Estamira de Marcos Prado, Brasil.