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Mostra celebra a arte de Sergio Leone

Serão apenas quatro dias, da quarta, 20, até o sábado, 23, tempo suficiente para que o MIS revisite a obra do italiano Sergio Leone. Ele morreu em 30 de abril de 1989. Virou objeto de um culto. Virou até nome de rua em Almeria, cidade da Espanha que ele colocou no mapa mundial ao rodar ali seus spaghetti westerns, nos anos 1960. É considerado um autor influente, seminal. Seus filmes são reverenciados e dissecados – a trilogia “Dollars” e Era Uma Vez no Oeste e Era Uma Vez na América.

Com Por Um Punhado de Dólares, quando transpôs para o Oeste selvagem o clássico de sabre de Akira Kurosawa, Yojimbo; Por Uns Dólares Mais; e Três Homens em Conflito, ele esculpiu o mito do Homem sem Nome e transformou Clint Eastwood em astro. Clint voltou para os EUA, encontrou outra referência – Don Siegel – e hoje gosta de se referir aos dois, Sergio e Don, como seus mestres. Mas esse reconhecimento de Sergio Leone não foi imediato. Na época, os críticos, sempre atrasados, torciam o nariz. O que melhor escreveu sobre Leone, (Sir) Christopher Frayling, lembra que seus filmes hoje considerados grandes eram descartados como “chili and carnage”.

Frayling escreveu o livro definitivo sobre Leone – Something To Do With Death (University of Minnesota Press). Alguma coisa a ver com morte. É o tema que atravessa seu cinema e se torna cada vez mais grave na segunda trilogia, Era Uma Vez no Oeste, Era Uma Vez na Revolução (título que ele teve de trocar para Quando Explode a Vingança) e Era Uma Vez na América. A morte vestia as longas capas que Henry Fonda e seus sicários tomaram emprestadas do Liberty Valance/Lee Marvin de O Homem Que Matou o Facínora, ou a morte do Velho Oeste, decretada por John Ford. E também naquele telefone cujo chamado ecoava ao longo do relato de gângsteres de Leone.

Ele tinha 19 anos quando escreveu seu primeiro roteiro – nunca filmado -, o autobiográfico Viale Glorioso, sobre um grupo de jovens romanos. Em casa, eram versões de Dr. Jekyll, todos bons meninos. Na rua, eram equivalentes de M. Hyde, bagunceiros, violentos. Naqueles anos de guerra, Leone já vivia entre a atração da rua e do cinema. Hollywood e os westerns nutriram seus sonhos. Ele viveu intensamente a febre de Hollywood sul Tevere, nos agitados anos 1950 e princípio dos 60, quando os norte-americanos descobriram que era mais barato filmar suas superproduções em Cinecittà.

Virou um assistente requisitado. Assumiu a direção, na fase de pós-produção, de Os Últimos Dias de Pompeia, creditado a Mario Bonnard; dirigiu O Colosso de Rhodes; e fez a segunda unidade de Sodoma e Gomorra, de Robert Aldrich (na Itália, teve crédito de codiretor). Entre 1950 e 61, foi um diretor de peplum, nome que designava os filmes de túnica – as fantasias histórias e mitológicas -, gênero que precedeu os faroestes no cinema industrial italiano. Em 1964, com roteiro coassinado por Duccio Tessari, iniciou seus tiroteios nas planícies de Almeria. A sacada foi perceber que o tempo dos heróis havia passado – até para o mestre Ford – e fazer seus faroestes críticos e desmistificadores.

Leone não chegava a diferir do que já fazia outro Sérgio, o Corbucci. O diferencial foi trazer Ennio Morricone para a trilha. Com Morricone, as trilhas ajudaram a construir um estilo operístico que virou a marca do diretor. O duelo a três – uma incongruência, porque duelo teria de ser de dois – de Três Homens em Conflito, quando se defrontam naquela arena três trânsfugas de Hollywood, Clint, Lee Van Cleef e Eli Wallach, causou sensação.

Leone não parou mais. Transformou Henry Fonda num vilão memorável, resgatou Charles Bronson de sua carreira de coadjuvante na América ao fazer dele o homem da harmônica de Quando Explode a Vingança e ainda viria a droga com seus efeitos alucinantes nos gângsteres de Era Uma Vez na América, Robert De Niro e James Woods. Leone importou atores dos EUA. Teve um olho para os europeus. Klaus Kinski, Gian Maria Volontè. Fez desse o genial El Índio, de Por Uns Dólares a Mais. El Índio tem uma cena de delírio embalada na talvez mais bela composição de Morricone. Valerá a pena ver, e ouvir, The Ecstasy of Gold.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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