Ninguém gosta de falar nela. Sequer em pensar. Ela é a vilã que causa dor e sofrimento. Que separa as pessoas que se amam. Que retira de cena os maiores atores do espetáculo da vida terrestre: os seres humanos. Para a maioria das religiões a morte representa a porta atrás da qual ocultam-se mais dúvidas do que certezas.

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Para uns talvez o ?descanso eterno?, um sono equivalente ao aniquilamento. Há os contemplados por graças celestiais ou até por mérito que gozarão do ócio enfadonho mais próximo da punição do que de prêmio. Alguns têm a convicção de que desfrutarão de verdadeiras orgias com falanges de virgens, regadas a muita música e bebida. E outros encontrarão a destinação que lhes foi conferida pelo mau comportamento aqui na Terra em zonas infernais com ?choro e ranger de dentes?.

Biologicamente, a morte é um fenômeno inevitável e que deveria ser aceito por todos sem revolta ou desespero. Certo filósofo afirmou que começamos a morrer no dia em que nascemos. Também se diz que morre bem quem viveu bem. Para os espíritas, a morte é o processo de liberação da alma do corpo físico. Nada mais. Na outra dimensão, continuamos sendo exatamente o que se eramos aqui, salvo as mudanças decorrentes do novo ambiente.

Conserva-se a individualidade. Não é uma gota de água diluída no oceano. Segue-se como inteligência consciente de si mesmo e do mundo. Continuará pensando, sentindo e agindo, embora não disponha mais do corpo carnal que lhe servia de veículo de manifestação. Mas terá conservado o corpo espiritual, sutil e invisível aos sentidos físicos, mas tão real quanto aquele.

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Para o espírita, a morte não é o fim, apenas mudança de fase ou estágio. Sabe que não ?perdeu? o entequerido, o amigo. Somente separou-se dele temporariamente. Se houver afinidade genuína entre si, se reencontrarão no futuro em algum lugar e, possivelmente, também aqui na Terra em nova reencarnação. A morte em si não dói. Para os que têm a consciência tranqüila é como uma lâmpada que se apaga por falta de energia, suave, quase que imperceptivelmente. O escritor espírita Hermínio de Miranda, na obra Nossos filhos são espíritos, informa que 90% das pessoas submetidas à regressão de memória afirmam que a morte é menos penosa que o nascimento.

De fato, neste o espírito perde temporariamente algumas faculdades, entre elas a memória integral e sujeita-se às vicissitudes da vida material. Perde a liberdade de rápida locomoção, afasta-se de lugares mais aprazíveis e de companhias muitas vezes mais fraternas. Além do mais, dúvidas e temores podem assaltá-lo quanto ao sucesso nas novas provas escolhidas ou nas expiações que terá de suportar.

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A morte dá-se de modo natural pelo esgotamento dos órgãos ou por circunstâncias violentas. O organismo humano, bem como os dos animais, está impregnado do fluido vital que é o seu combustível. Porém, quando partes importantes deste conjunto apresentam graves desgastes, seja pelo prolongado uso, seja por terem sido lesadas traumaticamente, este fluido não consegue mais movimentá-las. Portanto, a morte não é causada pelo desligamento do espírito do corpo, mas da impossibilidade do espírito continuar a comandá-lo.

Na morte violenta, o choque causado é maior ao que desencarna, justamente porque não só a quantidade de fluido vital estava sendo suficientemente absorvida pelos órgãos sadios cessa como pela surpresa emocional do evento. Principalmente quando o indivíduo não está familiarizado com o que se encontra do outro lado. Talvez sequer tenha pensado nisso ou tinha sido influenciado negativamente por idéias e conceitos religiosos ou do meio social. Poderá levar horas, dias, muitos meses até reconhecer a situação de não pertencer mais ao chamado mundo dos vivos. Quem não lembra do personagem de Patrick Swaize em Ghost?

Devemos pensar na morte, meditar e não fugir simplesmente. Tal não significa alimentar temores infundados de que ela vai acontecer amanhã ou em acidente na próxima viagem. Mas não podemos ignorar a possibilidade que ela chegue a qualquer momento. Devemos estar sempre prontos para quando isto ocorrer. E ocorrerá inexoravelmente. É a lei de destruição que fecha um ciclo para abrir um outro, renovado.

Viver bem para morrer bem significa não nos escravizarmos à vida material, às suas necessidades e principalmente seus prazeres. Precisamos, acima de tudo, ter sempre pronta a bagagem com a qual faremos a travessia na fronteira da morte. Para tanto, recordemos Jesus quando afirmou para que não ajuntássemos tesouros que os ladrões podem roubar e as traças e a ferrugem podem destruir.

Contará então o progresso moral e intelectual que fizermos, a caridade, o amor que praticarmos. Questionados, os mentores responsáveis pela organização da doutrina espírita foram taxativos ao dizer que o conhecimento das leis que regem a vida espiritual influenciam nos processos da morte, incluindo o antes e o logo depois, mas o mais importante era a prática do bem.

É diferente morrer e desencarnar. A morte atualmente é definida como o cessar da atividade cerebral. Já a desencarnação pode demorar horas ou muito mais tempo, como é o caso relatado pelos próprios suicidas que, às vezes, chegam até a acompanhar a decomposição cadavérica sem poder se desligar dali.

A alma não parte ?como um pássaro cativo que subitamente ganha a liberdade?, mas desembaraça-se gradualmente. Vida e morte se tocam e se confundem. Os laços perispirituais ou energéticos são desatados aos poucos, daí que a cremação só é recomendável após um período de 50 a 72 horas, tempo médio de liberação total.

Feita a travessia, se tranqüila, o retorno ao mundo espiritual é seguida pela recepção calorosa de parentes, amigos e entidades encarregadas destas tarefas para encaminhamento às colônias de refazimento ou tratamentos especializados. Promove-se, então, a regeneração, na matriz espiritual ou modelo organizador biológico, dos órgãos mutilados em acidentes ou extensos comprometimentos provocados pelas enfermidades que vitimaram o indivíduo. Também será submetido a sessões de descondicionamento mental e a ambientação ao novo lar.

Já os mais despreparados, notadamente os de condições morais precárias, amargarão internações prolongadas nas chamadas zonas umbralinas ou se manterão imantados junto à crosta terrestre, imiscuindo-se entre os encarnados e perturbando-os até, por disposição inicial própria de renovação, receber os esclarecimentos necessários e ser contemplados com a misericórdia divina para seguir seu caminho.

Associação de Divulgadores do Espiritismo do Paraná -www.adepr.com.br