Há dois anos, ele lutava bravamente contra o câncer. Nesta quinta, 2, Ricardo Della Rosa foi vencido pela doença. Morreu o premiado diretor de fotografia de Casa de Areia e À Deriva. A notícia foi divulgada pela produtora O2, de Fernando Meirelles. O próprio Fernando valeu-se de uma licença poética. No Twitter, disse: “Perdemos hoje o Ricardo e o cinema brasileiro perdeu sua luz.”
Há o que se pode considerar uma ironia cruel no fato de Della Rosa ter morrido no mesmo dia do gigante centenário, Manoel de Oliveira. Um viveu muito, 106 anos. O outro, bem menos – 41 anos. Pela importância de Oliveira, a morte de Della Rosa, em comparação, pode passar despercebida. Mas seria injusto com o homem que iluminou obras de exceção do cinema brasileiro.
Formado em cinema pela Universidade da Califórnia em Los Angeles, a famosa UCLA, Della Rosa fotografou muito para publicidade e cinema. As suntuosas imagens de Casa de Areia lhe valeram o Bronze Frog do Festival Cameraimage, na Polônia, considerado o mais importante evento de cinematografia do mundo. Andrucha Waddington filmou seu longa nos Lençóis Maranhenses. Acusado de ‘cosmetizar’ a fome em Eu Tu Eles – “Mas é uma história de amor!”, defendia-se o diretor -, ele fez de Casa de Areia uma visceral experiência no tempo.
Não seria a mesma coisa sem o excepcional trabalho de Della Rosa.
Ele tinha o que se pode chamar de olho para a beleza. Mas seus filmes não são exercícios estetizantes de fotografias. Olga pode ter os excessos de seu diretor, Jayme Monjardim, mas a história, narrada como um caudaloso romance, da judia alemã Olga Benário e sua militância comunista prestava-se a essa abordagem.
Fotografou também O Passado, de Hector Babenco, coprodução brasileiro/argentina, À Deriva, de Heitor Dhalia, e O Homem do Futuro, de Cláudio Torres. Cada um encerrava o seu desafio – os interiores sombrios de Babenco, a praia luminosa de Dhalia, o ambiente futurista da comédia de Torres. Nos EUA, fotografou A Sombra do Inimigo, de Rob Cohen, com Tyler Perry como o detetive Alex Cross, alvo da caçada de um criminoso que mata a todos ao seu redor. De novo, como em O Passado, um universo de sombras, ameaçador. A última fotografia de Della Rosa, para contrabalançar, explodiu em luz – Rio, Eu Te Amo, no ano passado.
