Hunter Stockton Thompson, um dos mais importantes escritores da contracultura e
um dos mestres do que ficou sendo conhecido como new journalism (um novo estilo
de escrever reportagens que se solidificou nos anos 60, mais pessoal e
coloquial) morreu ontem à noite em sua casa em Aspen, no Colorado, aos 65
anos.
As circunstâncias da morte indicam que Thompson se matou com um
tiro na cabeça. Autor importante para todos aqueles que hoje fazem o que se
convencionou chamar de jornalismo pop, Hunter Thompson ganhou fama em 1972 com o
livro "Fear And Loathing in Los Angeles". Em 1970, com "Hell’s Angels", ele
mergulhou no mundo das gangues de motocicletas da Califórnia e quase morreu,
espancado por suas fontes.
O filho do autor, Juan Thompson, que encontrou
o corpo do escritor em casa, soltou uma nota divulgada ontem à noite pelo jornal
"Aspen Daily News". "Hunter prezava sua privacidade e nós pedimos a seus amigos
e admiradores que respeitem essa privacidade da mesma forma que sua família",
dizia o texto também assinado por Anita, viúva do autor.
Ativista
Apesar de sua relevância como autor e repórter, Thompson só teve seu livro de
estréia publicado no Brasil muito recentemente pela Editora Conrad, o clássico
"Hell’s Angels". Ativista, polêmico, excêntrico, no ano passado o autor tinha
participado de uma série de ações contra o governo de George W. Bush. "Esse
presidente destruiu o país, a economia, as relações com o restante do mundo. Ele
é um monstro na Casa Branca. Ele deve renunciar", discursou, durante um comício
contra a guerra no Parque Paepcke, em Aspen, estação de inverno onde vivia e
costumava andar de bicicleta.
Sua obra, definida como Gonzo Journalism
por um editor, era permeada por um estilo único, em geral tendo Thompson como um
narrador misturado aos fatos. "Ficção é baseada na realidade, a menos que você
seja um autor de contos de fadas", dizia o escritor. "Você tem de tirar o
conhecimento da vida de algum lugar. Tem de conhecer o material sobre o qual
escreve antes de mergulhar nele."
Thompson era mais pop do seus
contemporâneos do new journalism (Lester Bangs, Tom Wolfe e George Plimpton) e
também mais radical e "heróico" que seus colegas, muitas vezes mergulhando em
experiências radicais, como o uso abusivo de drogas e álcool e a vida nas ruas
para extrair sua narrativa. "Obviamente a descrição do meu uso de drogas é
fantasiosa, ou eu já estaria morto há muito tempo", disse o autor em
1990.
Coleção de armas
Há alguns anos morava retirado em uma montanha,
em Woody Creek, num lugar chamado Owl Farm, e consta que tinha uma coleção de
armas. No ano 2000, ele atirou acidentalmente de raspão na sua secretária
Deborah Fuller, tentando expulsar um urso de sua propriedade. Dos anos 70 aos
anos 90, Thompson escreveu uma série de artigos, ensaios e ficção que ele chamou
de Gonzo Papers. Eles foram reunidos em quatro volumes. Em 2003 ele lançou sua
autobiografia, "Kingdom Of Fear", inédita no Brasil. O escritor também inspirou
um personagem do cartunista Garry Trudeau.
Filho de um vendedor de
seguros que morreu quando ele era ainda criança, Thompson teve uma juventude
atribulada e chegou a cumprir 30 dias de prisão por roubo em uma instituição do
Estado. Estudou jornalismo na Universidade Colúmbia em Nova York. O livro "Fear
And Loathing in Los Angeles" foi adaptado para o cinema com Johnny Depp e
Benicio del Toro no elenco (o título no Brasil foi traduzido para "Medo e
Delírio").
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