Autor de telenovelas como “Vale Tudo” e “Paraíso Tropical”, Gilberto Braga morreu na noite desta terça-feira (26), aos 75 anos. Ele sofria da doença de Alzheimer e estava internado no hospital Copa Star, no Rio de Janeiro, devido a uma infecção gerada por uma perfuração do esôfago. O dramaturgo, que era casado com o decorador Edgar Moura Brasil, não resistiu às complicações.

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Rosa Maria Araújo, historiadora e irmã de Braga, confirmou a morte e lamentou a perda do primogênito da família. “O Gilberto era o sonho de consumo de qualquer irmão, muito afetuoso, estudioso e inteligente. Foi ele que nos apresentou ao cinema, ao teatro e à televisão. Vai fazer, realmente, muita falta”, diz.

Braga começou a carreira de dramaturgo nos início dos anos 1970, quando assinou dois episódios do seriado “Caso Especial”, que trazia diferentes histórias com equipe e elenco variados. Na mesma década, trabalhou em adaptações de obras clássicas, com destaque para “Escrava Isaura”, de 1976, marco da televisão brasileira que teve Lucélia Santos como protagonista do romance de Bernardo Guimarães.

Mas foi com o sucesso retumbante de “Dancin’ Days”, de 1978 -com Sônia Braga, Antonio Fagundes e Joana Fomm no elenco- que Braga consolidou as bases das telenovelas contemporâneas em horário nobre -e, de quebra, influenciou até mesmo o que os brasileiros vestiam, numa produção lembrada também pelos figurinos coloridos e inspirados na discoteca.

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A ela se seguiram “Água Viva”, de 1980, que mostrou com pioneirismo o uso da maconha na televisão brasileira, dentro do contexto do cotidiano de personagens de classe média alta, “Brilhante”, “Louco Amor”, “Corpo a Corpo”, “Anos Dourados” e “O Primo Basílio”.

Foi em 1988, no entanto, que seu maior sucesso foi ao ar. “Vale Tudo” se tornou um fenômeno da Globo e alçou o autor carioca ao panteão da teledramaturgia brasileira. Na reta final do folhetim, mobilizou a população brasileira com a pergunta “quem matou Odete Roitman?”. As tentativas de decifrar o assassinato da vilã vivida por Beatriz Segall geraram um dos mais eficazes “quem matou?” da nossa televisão -no fim, descobrimos, Leila, personagem de Cassia Kiss, havia dado um fim à personagem.

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​”Eu gosto muito de herói, mas talvez eu escreva melhor os vilões”, costumava dizer Braga, que eternizou no imaginário popular figuras desprezíveis, mas também fascinantes, como a própria Odete Roitman e também Maria de Fátima, vivida por Gloria Pires na mesma novela.

Em “O Dono do Mundo”, de 1991, o carioca criou para Antonio Fagundes o médico Felipe Barreto, um tipo cafajeste que tentava seduzir uma jovem virgem às vésperas de seu casamento, só para ganhar uma aposta.

Braga também foi o autor de “Anos Rebeldes”, “Pátria Minha”, “Labirinto” e “Força de um Desejo”. Nos anos 2000, lançou outros folhetins que, hoje sabemos, se tornaram novos clássicos da nossa teledramaturgia -“Celebridade”, de 2003, e “Paraíso Tropical”, de 2007.

O primeiro foi responsável por apresentar uma nova vilã emblemática -Laura Prudente, personagem de Cláudia Abreu que se aproximava de Maria Clara Diniz, vivida por Malu Mader, uma ex-modelo e empresária. A rivalidade das duas criou a receita para a trama, que tem como uma de suas cenas mais icônicas uma violenta briga num banheiro, que hoje ganhou sobrevida nas redes sociais e virou meme.

Já “Paraíso Tropical” rendeu a Braga uma indicação ao Emmy Internacional, ao acompanhar as histórias das gêmeas Paula e Taís -vividas por Alessandra Negrini-, do ambicioso empresário Olavo -Wagner Moura- e da prostituta Bebel -Camila Pitanga.

Seus últimos trabalhos como autor principal, ambos na Globo, foram em “Insensato Coração”, de 2011, e “Babilônia”, de 2015.

“Se alguém um dia fez com que a telenovela passasse a representar não histórias idealizadas, mas ‘a vida da gente’, esse alguém foi Gilberto Braga”, diz Zeca Camargo, apresentador e colunista deste jornal. “Gênio não só nas tramas, mas na transformação da nossa vida cotidiana em ricas narrativas televisivas, Gilberto marcou mais de uma geração de telespectadores.”

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