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Morre escritora americana Toni Morrison

A escritora americana Toni Morrison morreu nesta segunda-feira, 5, aos 88 anos. Um porta-voz disse que a causa foi complicações da pneumonia. Ela foi a primeira mulher negra a ganhar o Nobel de Literatura, em 1993. “Aceitei o prêmio para que toda mulher negra me visse e repetisse para si mesma que também é capaz de chegar lá”, disse ela ao Estado, em 2006, durante a 4ª Festa Literária Internacional de Paraty, a Flip, onde foi o destaque.

Toni tornou-se famosa nos EUA por apresentar a história dos afro-americanos (por ser uma, ela se sentia no direito de usar a expressão “negros”) não apenas como figuras determinantes na construção do país, mas principalmente como alvo de uma segregação que ainda se impõe, mesmo que de forma mais velada, a diferença entre negros e brancos.

Nascida em 1931 como Chloe Anthony Wofford (adotou o pseudônimo por considerar seu primeiro nome de difícil pronunciação) na cidade de Lorain, Ohio, Toni foi obrigada ainda pequena a se mudar com os pais para o norte dos EUA, para escapar dos problemas raciais do sul. A situação marcou profundamente a formação e tornou sua obra um exemplo de histórias em que a cor da pele dos personagens é determinante.
Ao longo dos anos, desenvolveu uma prosa seca, direta, desprovida de dramalhões, e com uma ponta, ainda que pequena, de otimismo. Habituou-se ainda a tratar de temas fortes em sua ficção, como pedofilia, prostituição, preconceito racial.

Na Flip de 2006, seu debate foi o mais disputado. Durante a conversa, revelou seu desconforto com o rótulo de representante da literatura negra e feminina – chegou a mudar bruscamente de assunto, respondendo ter ficado feliz com o Nobel de Literatura, o que arrancou risos da plateia. Mas foi incisiva ao citar a carga de 250 anos de escravidão, garantindo que pretendia tornar a realidade da comunidade afro-americana em algo bonito, mas “palatável”.

Em 2005, em entrevista exclusiva ao Estado, Toni explicou o motivo da presença constante de mulheres lascivas em sua prosa: “Uma mulher sem-lei ou fora da lei apresenta um rico território para se examinar uma cultura. E sempre foi um terreno fértil na literatura: Antígona, Hester Prynne (de A Letra Escarlate, de Nathaniel Hawthorne), Medeia, Sylvia Plath, Emma Bovary, Anna Karenina – eu poderia continuar citando infinitamente”.

Ao escrever sobre negros, a autora americana garantiu que não utilizava dados biográficos. “Cada um dos meus romances tem sido um esforço de examinar outras percepções, comportamentos contraditórios, o impacto do racismo legalizado e contínuo contra aqueles que insistiram em resistir, sobreviver e triunfar. Algumas daquelas estratégias funcionam; outras falham.”

Toni via também uma dificuldade em dissociar arte da política. “A arte determinada a ser apolítica é algo meramente favorável a manter o status quo, portanto, acaba agindo como algo político de qualquer forma”, disse. “O debate completo sobre arte política versus não política é algo não apenas político, como também relativamente novo. Afinal, quem teria questionado sobre isso a respeito de Shakespeare, Tolstoi ou qualquer outro antes de 1939 e a eclosão da guerra?”

E a escritora americana revelou ser conhecedora da literatura brasileira. “A indiferença dos editores norte-americanos em traduzir livros de outros países é notória. Apenas conhecemos alguns poucos. Mas já li Jorge Amado, Nélida Piñon, Clarice Lispector e Rubem Fonseca. Atualmente, há um incentivo maior (graças ao Pen e seus prêmios literários) para aumentar o número de traduções de todas as partes do mundo. O que certamente é um alívio para nossa impenetrável estupidez.”

Livros de Toni Morrison no Brasil

O Olho Mais Azul (1970)
Romance de estreia, sobre menina negra que sonha ter olhos azuis numa época em que o modelo de beleza é o da atriz branca Shirley Temple

Amada (1987)
Baseado em uma história real, é ambientado em 1873, época em que os Estados Unidos começavam a lidar com as feridas da escravidão recém-abolida

Jazz (1992)
Em 1926, o Harlem, bairro negro de Nova York, é povoado por camponeses que vieram em busca das promessas da cidade grande. O que sobressai, porém, são injustiças contra mulheres

Paraíso (1998)
Primeiro romance publicado pela autora depois de receber o Nobel de Literatura. A ação se passa em Ruby, cidade onde todos têm o sangue 100% negro e são tementes a Deus

Amor (2003)
Por meio das lembranças de seis mulheres, a história de ódios e paixões em que o falecido proprietário de um hotel à beira-mar é o pivô dos conflitos

Quem Leva a Melhor? (2008)
Três fábulas originalmente contadas por Esopo e La Fontaine (A Cigarra e a Formiga, O Leão e o Rato e O Vovô e a Cobra, ganham nova versão, com tom contemporâneo

Compaixão (2008)
A condição da mulher negra nos Estados Unidos, desta vez situando a narrativa em 1690, nos primórdios da nação americana

Voltar Para Casa (2012)
Veterano de guerra vive em profundo conflito com seus fantasmas, perturbado pela enorme culpa de ser um sobrevivente e pelas atrocidades que cometeu

Deus Ajude Essa Criança (2015)
Em um conto de fadas moderno, propõe uma difícil questão: o que fazer com o erro cometido por uma criança, quando ele foi motivado por uma força contra a qual ela era incapaz de lutar?

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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