Trágica coincidência. No momento em que a editora Companhia das Letras coloca nas livrarias o livro “A Oeste do Éden” (tradução de Denise Bottmann, 376 págs., R$ 64,90), sua autora, a norte-americana Jean Stein, acaba de cometer suicídio. Ela se atirou do 15.º andar de um prédio no Upper East Side e foi encontrada às 10h30 de domingo no terraço do oitavo andar do edifício, na praça Gracie, em Nova York. Stein, 83, nasceu em Los Angeles, Califórnia, em 1934, foi editora da Paris Review e era um nome respeitado entre a intelectualidade norte-americana. Ela sofria de depressão e já tentara o suicídio antes.
Filha de Jules C. Stein (1896-1981), magnata da indústria que fundou a Music Corporation of America (MCA), Jean Stein estudou nos melhores colégios dos EUA e também em Lausanne, na Suíça, além de ter passado pela Sorbonne, em Paris. Foi na capital francesa que, aos 19 anos, entrevistou o escritor William Faulkner, então com 56, com o qual teve um affair. Ao voltar aos EUA, em 1955, Jean Stein, aos 21 anos, tornou-se assistente do diretor Elia Kazan numa montagem teatral de “Gata em Teto de Zinco Quente”, a premiada peça de Tennessee Williams.
Pioneira ao usar a história oral como técnica literária, Jean Stein escreveu três livros, sendo o mais recente “A Oeste do Éden – Um Lugar Americano”, que traz em seu terceiro capítulo a história de uma suicida, Jane Garland, uma das cinco histórias do livro. Esquizofrênica, ela teve igualmente uma vida de menina rica, como Jean, mas sucumbiu como a autora, fascinada por histórias de suicidas – há outros casos em seu livro, como o do filho de Edward L. Doheny (ele inspirou o protagonista de “Sangue Negro”, o filme de Paul Thomas Anderson), um dos maiores produtores de petróleo, Ned Doheny, que assassinou a secretária e se matou em seguida.
“A Oeste do Éden” fala também do esplendor de Los Angeles como centro cinematográfico, elegendo chefões como Jack Warner e atrizes como Jennifer Jones, que foi casada com David O. Selznick, (1902-1965) o produtor de “E O Vento Levou…”
Jean Stein era fascinada por grandes personalidades. Nos anos 1970 escreveu a biografia do senador Robert F. Kennedy, “American Journey: The Times of Robert Kennedy”, com a ajuda do jornalista esportivo George Plimpton (1927-2003), que ajudou a financiar a Paris Review. Outra personalidade retratada pela autora foi a musa do pintor pop Andy Warhol, Edie Sedgwick, “Edie: American Girl”, que Norman Mailer elogiou como um retrato original dos anos 1960.
A escritora teve dois casamentos: com o advogado William Canden Heuvel e, em 1985, com o médico Torsten Wiesel. Eles se separaram há dez anos.