Cidade ícone do cinema brasileiro, a pequena Monte Santo, encravada no meio do sertão baiano, é um misto de história e esquecimento. Em suas terras, o cineasta Glauber Rocha filmou seu clássico maior, Deus e o Diabo na Terra do Sol, em 1963. Cinquenta anos mais tarde, a cidade de rica história seguiu seu rumo, e guarda pouco dos jovens baianos que ali fizeram o marco inaugural do Cinema Novo.

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A partir da história contada em Monte Santo – que só foi estrear nos cinemas no ano seguinte – nasceu a mais criativa e ambiciosa geração de cineastas brasileiros, reconhecida com prêmios em festivais como Cannes (França) e Veneza (Itália), e por mestres da arte, como os diretores Jean-Luc Godard, Luis Buñuel e Martin Scorsese.

Cinquenta anos depois de Glauber, a reportagem percorreu as ruelas do município, incluindo a famosa escadaria de pedra encravada na serra de Santa Cruz, que permanece igual àquela filmada em 1963. Mantida pela prefeitura de Monte Santo e pelos fiéis que fazem dela trajetória de procissão até a pequena capela no alto do morro, a escadaria de três quilômetros foi também personagem – dentro e fora das telas.

Em Deus e o Diabo, os moradores de Monte Santo, que interpretam beatos seguidores de São Sebastião, são assassinados no local por Antônio das Mortes, que atira com sua espingarda do alto da escadaria. A cena é fundamental para o enredo. Sem os beatos, os protagonistas Manuel e Rosa partem em busca de outro guia, que surge na figura do cangaceiro Corisco, o braço direito de Lampião.

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Mas, fora das telas, a escadaria também teve papel no filme – ao realizar a dramática passagem em que o vaqueiro Manuel sobe de joelhos os degraus de pedra, com um enorme pedregulho apoiado na cabeça, o ator Geraldo Del Rey sofreu um grave ferimento na base do crânio, e precisou ser tratado em um hospital de Salvador, paralisando as filmagens por três dias.

Em 1963, a maior parte do pouco mais de mil habitantes de Monte Santo ainda se lembrava do grupo de Lampião, e os mais velhos tinham memórias do conflito em Canudos. Em sua biografia de Glauber, Nelson Motta anotou: “Com a chegada da equipe de filmagem, a cidade, mergulhada em profundo clima místico, acordou de sua letargia e passou a viver entre a fantasia, o mito e a realidade”.

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As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.