Monalisa muda de sala no Louvre

Paris – A Gioconda mudou para seu novo apartamento. Não deixou o Louvre, mas passou para a imensa Sala dos Estados, após quatro anos de reformas financiadas pelos campeões do mundo dos adeptos da Monalisa, os japoneses. Poucas pessoas ao longo da história foram objeto de tantos olhares. E isso dura 500 anos: Lisa Gherardini, mulher de um rico comerciante de Florença, Francesco Giocondo, foi pintada por Leonardo da Vinci em 1503. Ele não terminou sua pintura na época, tanto que a Gioconda acompanhou o pintor italiano quando ele foi morar na França, em 1519.

Centenas de milhões já contemplaram essa dama enigmática. Só em 2004, 6 milhões de pessoas passaram diante da sua efígie. E, na verdade, a Gioconda, apesar da tez pálida, de sua figura comum e do sorriso vago, teve uma existência rocambolesca. Não só foi copiada milhares de vezes, como também são numerosas as interpretações a seu respeito. Gravidez, asma, estão entre as explicações para sua aparência e há críticos que a viam como um travesti.

Ela também provocou a eloqüência de outros pintores. Em duas reproduções principalmente. Na época dos surrealistas, no entreguerras, o grande pintor Marcel Duchamp, exasperado pelo sorriso apagado da Gioconda, compra uma de suas reproduções e acrescenta-lhe bigode e barba.

Mais tarde, o pintor americano Andy Warhol cometerá um outro sacrilégio: fará a serigrafia de 30 Giocondas com o título ?Trinta Valem mais do que uma.? Em 1913, o grande poeta Apollinaire escandalizou a burguesia francesa indagando publicamente: ?Vamos queimar a Gioconda??.

Ninguém a queimou e ela se comportou com charme. Os tratamentos pelos quais ela passou são animadores: o suporte sobre o qual foi pintada está bom. Há uma fenda de 11 centímetros, mas é antiga e não aumenta mais. Os pigmentos estão impecáveis. Um defeito, no entanto: os vernizes amarelaram, o que lhes dá uma coloração ligeiramente mais esverdeada. Mas isso pode ser superado: é suficiente dizer que essas cores dão o ?célebre sfumato?, um pouco esfumaçado ou brumoso, a marca do gênio de Da Vinci.

Ela começa hoje uma nova etapa de sua longa vida e deve enfrentar dois novos desafios: o primeiro é que é uma peça pequena instalada em um lugar monumental, cercada por um imenso arco. Outro perigo: está cercada por 50 telas de beleza atordoante – Tintorettos, Bassanos, etc. Diante de tais vizinhos não é fácil manter seu título de ?mais belo quadro do mundo?.

A vida da Gioconda nem sempre é só de prazeres. Como ela vai resistir a esses rivais venezianos? Ela pode se tranqüilizar lembrando que o grande historiador da pintura italiana do Renascimento, Vassari (também, pintor), declarou que a Gioconda era a obra-prima de Da Vinci. O chato é que Vassari escreveu isso depois da partida do artista para a França e que, portanto, nunca mais pôde ver a Monalisa.

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