Em mais de 45 anos captando flagrantes, registrando personalidades e extraindo do cotidiano momentos de beleza, alegria, violência e dor, o fotógrafo Evandro Teixeira reservou destaque especial em sua carreira para a Guerra de Canudos (1896 ? 1897), que ocorreu no período da transição entre o Regime Imperialista e o Republicano. Natural da Bahia, o fotógrafo cresceu ouvindo histórias de Canudos e delas extraiu a vontade de recontar, em imagens e texto, essa mesma história. Um fascínio que cresceu ao ler o clássico Os Sertões, de Euclides da Cunha, que cobriu a guerra como correspondente do jornal O Estado de São Paulo.

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O resgate, sonhado desde a adolescência, foi concretizado em 1997, no centenário do episódio, com o lançamento do livro Canudos 100 Anos, cujo desenvolvimento do projeto durou cerca de quatro anos. Nele, Evandro resgatou sobreviventes e herdeiros da comunidade criada por Antônio Conselheiro, líder messiânico que comandou milhares de seguidores na Guerra de Canudos. A exposição ?Evandro Teixeira ?Canudos? apresenta cerca de 50 imagens, selecionadas entre as 100 fotos incluídas no livro.

A mostra será aberta para jornalistas e convidados nesta quinta-feira (08), às 19 horas. O público poderá visitar a exposição de 09 de dezembro a 28 de fevereiro do próximo ano. ?Refiz a trajetória de Conselheiro, conversei com seus herdeiros, registrei lado a lado a antiga e a nova Canudos (…). Canudos é sinônimo de luta, de resistência, de mudança, de esperança. É a história do país, vivida e contada por gente simples, cuja força parece vir da agrura da terra, da beleza rude do sertão.? Por meio das fotos apresentadas nessa mostra é possível encontrar três Canudos: os vestígios da primeira Canudos, destruída pela guerra; as ruínas da segunda Canudos, submersa pelo açude de Cocorobó, e a Canudos atual?, explica o fotógrafo.

Em imagens comoventes, captadas pelo apurado olhar de um baiano, elas revelam a realidade em preto e branco dos sertanejos nordestinos. ?Os horizontes infinitos, a terra seca, o cinza da vegetação, o silêncio, e também a desolação e o abandono dos que vivem nesse outro Brasil, parado no tempo, escravizado, despossuído?, diz. Para o fotógrafo, essas imagens levam a pensar em uma guerra bem atual, em que a terra é disputada palmo a palmo, em uma luta pela mera sobrivência. A partir delas, a memória de outra guerra, surge na paisagem?, à medida que surgem as paragem históricas de Canudos: o Local da Degola, a Lagoa do Sangue e o famoso Vale da Morte.

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? O resultado é uma crônica feita de imagens e texto que vai do sertão clássico, dos cactos, da terra rachada e da seca, ao sertão pop, onde a pobreza convive com antenas parabólicas.? Canudos chegou a ter mais de 5 mil casas, tornando-se a maior cidade da Bahia à época, com cerca de 25 mil habitantes