Em 1951, John Huston fez um filme que virou cult, com Humphrey Bogart e Katharine Hepburn. Dois anos mais tarde, trocou as planícies do western pela savana e também foi filmar sua aventura africana. Embora Mogambo não ostente a fama de ser um dos grandes filmes do Homero de Hollywood, não há como resistir ao choque de paixões quando Clark Gable, o astro que era chamado de ‘Rei’, participa de um safári com Grace Kelly e Ava Gardner.
Críticos e historiadores vivem lembrando que Ford deu sua carta de nobreza ao western e usou o gênero para mostrar, na tela, como se constrói uma nação – a ‘América’, cujos valores essenciais ele cristalizou num conceito, o democratismo. Mas Ford foi um personagem complexo. Na vida, não resistia a um rabo de saia e dizia adorar a sexualidade sadia – e fez Depois do Vendaval para prová-lo. Mas a sexualidade turva também o atraía. Substitui Elia Kazan em O Que a Carne Herda e fez aquele julgamento sobre um caso de estupro no Velho Oeste – Audazes e Malditos.
Mogambo pode parecer um título estranho, mas é a palavra que, no dialeto suáli, designa ‘paixão’. Em 1932, bem antes de assinar duas obras cultuadas como …E o Vento Levou e O Mágico de Oz, Victor Fleming havia feito um longa sugestivamente chamado Terra de Paixões. Clark Gable fazia o caçador que, numa África de estúdio, oscilava entre a platinada Jean Harlow e a morena Mary Astor. Exatamente 30 anos mais tarde, alguém, na Metro, teve a ideia de refazer Terra de Paixões, e com o mesmo Gable.
A loira da vez era a glacial Grace Kelly, que logo em seguida – a partir de Disque M para Matar, em 1954 – esculpiria seu mito de frigidez no universo de suspense de outro mestre, Hitchcock. Invertendo o esquema básico da versão antiga, Ava retoma a parte de Jean Harlow e arrasta o rei Gable para o perigo. Quando Fleming fez sua versão, o Código Hays se instalara em Hollywood, justamente para conter a sensualidade exacerbada de figuras como a lendária Harlow. As cenas antigas parecem mais calientes, mas Ava era fogo e sua menor cena deixa subentendido o que o Código queria ocultar.
Sexo e bebida, uma ligação explosiva. E desta vez – é o grande diferencial em relação ao filme antigo – Ford foi à África, cujas paisagens torna ainda mais esplendorosas graças ao trabalho de dois grandes fotógrafos – Robert Surtees e Freddie Young. Mogambo terminou virando um interregno na obra de Ford, que logo voltou ao western. Mas talvez tenha sido o filme que influenciou outro grande homem do Oeste, Howard Hawks. No começo dos anos 1960, com John Wayne, ele também foi à África e fez seus clássico de caçadas – Hatari!, que em suáli quer dizer ‘perigo’. Em ambos os filmes, a grande caçada é, sutilmente, o sexo, que opõe homens e mulheres. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.