Biquínis, maiôs, peças leves e roupas esportivas, de um lado. Paletós, uniformes masculinos, brasões e um clima vintage, de outro. O quarto dia de desfiles da São Paulo Fashion Week foi dividido basicamente em dois momentos e teve uma boa notícia: a moda praia brasileira está revigorada, alegre, e autêntica. Depois dos desfiles de Lenny Niemeyer e Adriana Degreas, no início da semana, quinta foi a vez de Água de Coco, Salinas e Amir Slama apresentarem suas coleções. E atrair elogios da crítica internacional. “Não temos nada parecido no Reino Unido em termos de materiais, criatividade e modelagem”, diz Jane Boddy, editora de moda do portal de tendências WGSN.
Amir, que fundou a Rosa Chá nos anos 1990 (e a vendeu em 2006), passou oito anos longe da SPFW, criando uma marca homônima, com produção em pequena escala. “Resolvi voltar porque, em época de crise, é preciso investir”, diz o estilista. A coleção feminina, inspirada em Brigitte Bardot, trouxe peças com bordados e trançados manuais. A masculina, peças esportivas baseadas no universo das academias e no muay thai.
O esporte foi também o ponto de partida da coleção da Salinas, que mostrou uma moda pop, colorida e jovem. As jaquetas bombers de nylon esportivas lembravam muito as usadas nos anos 1980 (só faltaram a polaina e o walkman). O destaque são os maiôs inteiros e fechados, com decotes nas costas. Já a cearense Água de Coco fez um show exibido, cheio de dourados e bordados, sem baixo astral. Com a fauna e flora da floresta amazônica como referências, a estilista Liana Thomaz mostrou maiôs e biquínis supertrabalhados, com franjas, bordados de araras e texturas. Altamente decoradas e tropicais.
Especialista em moda festa, Helô Rocha também falou de Brasil. Foi das elfas (da última coleção) ao cangaço. Sua linha de vestidos lânguidos e transparentes ganhou cores e recortes de couro inspirados no figurino de Luiz Gonzaga. O couro, aliás, apareceu em versão latina no primeiro desfile do dia, de Patrícia Viera. A estilista reciclou tecidos que já tinha para apresentar uma coleção cujo tema era Cuba. “Entrei no estoque e vi uma porção de sacos de couro parados. Pensei: ‘Gente, estou em Cuba, não tem sabonete, não tem nada, como me viro?'”, conta Patrícia, divertida.
Moda masculina
Os representantes da moda masculina na SPFW apresentaram roupas para dois tipos de homem: o jetsetter e o moderno. Em sua estreia no evento, Murilo Lomas apresentou camisas de tricô e calças curtas com sapato sem meia (será que o brasileiro vai usar?). Para o segundo time, João Pimenta pensou em vários desdobramentos para uniformes militares. Apresentou uma alfaiataria sem gênero e desejável – na plateia, homens e mulheres paqueraram as mesmas peças (vestidos, paletós, saias e bermudões listrados). Muito antes da moda sem gênero renascer, Pimenta já explorava o assunto.
Ele viajou até a Paraíba para buscar um algodão que já nasce colorido, com um tom amarelado, que dá origem aos tecidos usados. “Comecei a coleção pensando nessa coisa do momento, de reciclagem, mas depois entendi que precisava falar de sonho”, conta. “Consegui fazer um desfile com 42 looks, produzindo todos os fios. Na crise, só não dá para faltar o sonho e a criatividade.”
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.