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Moda, Hitchcock, motocross e fitness

Não está sendo fácil. Mas muita coisa é para melhor. Alexandre Herchcovitch, um dos mais importantes estilistas brasileiros, vê assim questões de trabalho e da vida nos dias de hoje. Estilista e diretor de novos negócios da marca À La Garçonne, do empresário Fábio Souza, ele mostra na tarde deste sábado, 7, no Centro Cultural São Paulo, a coleção 02-2019 da grife.

Em menos de dez dias, volta ao mesmo espaço para desfilar a “linha” mais acessível da grife, a ALG, e tem planos ainda de exibir por lá, no ano que vem, uma retrospectiva de sua marca própria, a Herchcovitch; Alexandre, vendida em 2008 para o grupo InBrands.

Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, ele reflete sobre o papel dos desfiles de hoje, fala de apropriação cultural e questões de gênero, do trabalho como estilista e pai de dois meninos, e da coleção, que tem entre suas inspirações Hitchcock, motocross e a moda das academias de ginástica.

Muito se fala do papel dos desfiles hoje em dia. Qual sua opinião sobre assunto?

Para À La Garçonne é bastante importante o desfile, pois é o ponto de partida comercial da coleção. 40% da coleção é vendida a partir do desfile e ver a roupa vestida e em movimento dá a completa noção de proporção, caimento e imagem. Esta experiência se completa quando a roupa é tocada e, principalmente, vestida na loja.

Está mais difícil criar hoje em dia com questões delicadas, como, por exemplo, apropriação cultural e identidade de gênero?

Sim! Tudo está mais restrito, não quero me apropriar de nada. Estamos aprendendo a entender o que se passa, o que podemos falar e não falar, como devemos chamar as pessoas, a infinidade de gêneros, o que é tudo maravilhoso. Estamos preparando as próximas gerações para que questionem menos as escolhas dos outros e recebam com muito respeito a todos. Tempos difíceis, porém tudo para melhor.

O CCSP é hoje um lugar bastante peculiar. O que lhe agrada nesse espaço?

Me atraem as diversas possibilidades de espaços, a facilidade com que aceitam nossas propostas e como recebem a moda com respeito e cuidado. Além de sua beleza arquitetônica.

Tem um projeto de exposição previsto para lá no ano que vem…

Sim. É uma retrospectiva de meu trabalho, já que tenho mais de 2.000 peças guardadas, a que ninguém tem acesso. Espero poder concretizar este sonho de ver tudo exposto.

Falando da sua antiga marca… Que fim levou a Herchcovitch; Alexandre?

Espero que não tenha chegado a um fim… Ela tem imaginário e histórico fortíssimos, muitas pessoas conhecem, é uma pena não ter continuidade. Tenho contato com algumas pessoas que trabalham na InBrands (o grupo que adquiriu a grife), mas não fico especulando. Há muito ainda a se fazer com a marca.

Tem vontade de ter uma marca própria novamente?

Não tenho planos de abrir uma marca nova. Hoje trabalho na À La Garçonne e na Vulcabrás, faço consultoria de produto para a Haco (etiquetas e soluções de branding) e para a NK Store, desenvolvendo colaborações e licenciamentos. Voltaria a trabalhar na marca Herchcovitch; Alexandre.

Você tem dado muitas palestras e viajado por todo o País… Que questões são trending topics atualmente?

Os assuntos recorrentes são sustentabilidade, reúso e ressignificação, além de fast-fashion, slow-fashion e moda sem gênero. Me pedem conselhos e sempre falo a mesma coisa: trabalhem para outras marcas antes de abrir a própria, pesquisem as diversas profissões na moda além da de estilista, e tenham certeza de sua aptidão antes de optar por moda.

Tem outros projeto paralelos?

Sempre… Cuidar dos filhos é um deles (rs). Não é simples nem fácil. Acabei de gravar uma participação em um reality e tenho dois programas sendo analisados para o próximo ano… Existe também a possibilidade da exposição no CCSP, vamos ver quando sai.

Você é pai de dois meninos, de 6 e 7 anos, ao lado do Fábio Souza, dono da marca. Como enxerga essa nova geração que vem aí?

Eles gostam de se vestir, gostam de roupas, brincam de boneca e de carrinho, um joga futebol, outro faz natação. Espero ter a clareza de educá-los para um mundo onde haja menos preconceito. Todos somos iguais e isso é o que pregamos em casa.

Conta um pouco da coleção que será desfilada hoje.

Temos como referências movimento, motociclismo, motocross, técnicas de alta-costura, final da década de 1950 e início da década de 1960, e a moda das academias, que está tomando um espaço importante nos guarda-roupas e no modo de consumir e vestir roupas. Tudo isso embasado em técnicas de reúso, reciclagem e ressignificação de peças vintage.

E os filmes de Hitchcock, Psicose e Os Pássaros? Como eles se desdobram na coleção?

Para mim terror e suspense em filmes são uma forma de escapar do noticiário da vida real. É divertido trabalhar com este imaginário riquíssimo de figuras irreais. Eles se desdobram por meio da elaboração de roupas à moda da década de 1960, do tipo de acabamento e volume desta época. Há inspiração nos figurinos destes filmes.

E as corridas e a velocidade?

Customizamos diversas roupas de motovelocidade que têm uma forma interessantíssima. Elas são feitas e modeladas para serem usadas quando o motociclista está sentado e não em pé, assim as dobras do corpo são reveladas na roupa sem mesmo estar vestida. A mistura de materiais elásticos que promovem movimentos contrastados com materiais rígidos de proteção são uma engenharia riquíssima a ser estudada por quem gosta de construção.

A moda esportiva e o streetwear eram coisas bastante em voga na moda nos últimos anos e hoje se fala muito no retorno a uma elegância mais tradicional.

Como vê esse movimento?

O conforto promovido por estas roupas é o que nos atrai aqui na À La Garçonne. Estamos demais interessados nas roupas fitness e de academia. Elas se tornaram importantíssimas no guarda-roupa das pessoas que chegam a passar o dia com elas.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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