Quem costumava estar atrás das câmeras, veja só, protagoniza a nova exposição do Museu da Imagem e do Som (MIS). Os lambe-lambes, que ganhavam a vida fotografando anônimos pela cidade, foram retratados nos anos de 1973 e 1974, quando o ofício já apresentava sinais de extinção. Esses registros se tornaram uma das primeiras coleções do MIS, que em 2015 completa 45 anos de fundação e revisita seu acervo.
A exposição “Lambe-Lambe: Os Fotógrafos de Rua na São Paulo dos Anos 70”, mais do que um exercício de metalinguagem, é uma declaração de amor à fotografia. Não aquela requintada, de técnica apurada e com toques de arte. Não. A fotografia em sua essência quase naïf, rudimentar e tosca como os fotógrafos de rua a praticavam.
E, talvez como um salutar efeito colateral, essa coleção acaba sendo um registro sociológico de São Paulo. “Os lambe-lambes foram testemunhas das transformações da cidade e das mudanças no perfil socioeconômico dos frequentadores dos espaços públicos. Assim, a exposição não só retoma uma coleção criada nos anos 70, como resgata uma atitude de olhar para a cidade com o intuito de valorização e preservação de sua memória”, diz a pesquisadora Isabella Lenzi, curadora da mostra.
“Nos primeiros anos, o MIS tinha como meta valorizar a memória oral e visual da cidade e registrar personagens e locais esquecidos e em vias de desaparecimento”, contextualiza Isabella. “Atentos às atividades desenvolvidas pelo museu, em 1973, dois estudantes da Universidade de São Paulo – José Teixeira e Marcio Mazza – propuseram documentar o cotidiano e as técnicas dos fotógrafos lambe-lambes na cidade por perceberem que a atividade estava em vias de extinção e quase não havia material publicado sobre o assunto. Para isso, saíram por São Paulo em sua busca para fotografá-los e entrevistá-los.”
Explicação talvez necessária para a geração contemporânea tão habituada às selfies de smartphones: os lambe-lambes utilizavam uma máquina com um minilaboratório de revelação acoplado – sim, houve um tempo em que as fotos precisavam ser reveladas! -, e isso lhes permitia revelar instantaneamente as fotografias tiradas nos espaços públicos. Tais profissionais eram figuras comuns em jardins e praças da cidade, principalmente na primeira metade do século 20. Quem for à exposição poderá conferir uma câmera lambe-lambe original.
De origem simples
“A maioria dos lambe-lambes era fotógrafo anônimo, de origem simples. A profissão teve seu auge entre as décadas de 1920 e 1950, quando a elite frequentava as praças. Graças à venda de fotos, tornaram-se proprietários de pequenos imóveis em bairros periféricos da capital”, diz texto da mostra. “Em 1974, quando a pesquisa do MIS foi feita, a Prefeitura de São Paulo registrava 40 fotógrafos, mas só metade seguia em atividade. Nem todos trabalhavam todos os dias, e alguns só fotografavam aos domingos. Entre os fotógrafos entrevistados, a maior parte tinha mais de 60 anos, e pelo menos 25 de profissão. Muitos haviam trabalhado na indústria, eram aposentados e fotografavam como passatempo. ‘Estou sempre de férias’, disse Miguel Peinado ao depor.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Serviço
LAMBE-LAMBE: Os Fotógrafos de Rua na São Paulo dos Anos 70
DATA: 21 de abril a 14 de junho 2015
HORÁRIO: Terças a sextas, das 12h às 21h; sábados, das 10h às 22h; domingos e feriados, das 11h às 20h
LOCAL: Espaço Expositivo Térreo
ENTRADA: Grátis