“Sei que a Itália passa por um momento difícil, mas faço questão de lembrar que se trata de uma civilização de 2 mil anos, que já passou por muitos altos e baixos. Um país que possui o cinema que tem, que possui Da Vinci não pode ser um país pobre. Mais uma vez, vamos superar a crise.”
Quando Edoardo Pollastri, o presidente da Italcam (Câmara Ítalo-Brasileira de Comércio, Indústria e Agricultura), proferiu há uma semana essas contundentes, porém com gosto dolce-amaro, palavras, houve franca aprovação da plateia que lotava o auditório 1 da Faap, onde teve início a 7.ª Semana Pirelli de Cinema Italiano, que ocorre em várias salas da cidade até o dia 24 e é, justamente, realizada pela Italcam.
As palavras de Pollastri ainda vão ecoar por muito tempo nos corações e mentes de quem, oriundo ou não, sabe que a Itália, como diz o bordão, é muito maior que seus governantes e suas crises. Maior ainda é seu cinema. O que Pollastri fez não foi apelar para o piegas recurso de ícones do passado para salvar um presente e inspirar um futuro, mas sim lembrar que a história é cíclica e se repete.
Sendo assim, que se repita em breve o ciclo de ouro do cinema italiano. O ciclo que formou gerações de cineastas em todo mundo que, como Vicente Ferraz, presente na cerimônia para apresentar o promo de “A Montanha” (coprodução com a Itália e Portugal e rodado na região de Friuli-Venezia-Giulia), deve muito a mestres como Elio Petri, Federico Fellini, Roberto Rossellini, Mario Monicelli… E são exatamente esses mestres de um passado não tão distante que estão em cartaz a partir de hoje no MIS, provando que uma outra Itália e um outro cinema são possíveis. E necessários.
Antes de adentrar pela programação dos Clássicos da Semana, trazidos com o apoio do Museu de Cinema de Turim, vale lembrar que a atual produção de cinema italiana, a Mostra Contemporâneos, com seleção da curadora Erica Bernardini, trouxe o frescor da atual produção da Bota.
Mas são obras-primas como “A Classe Operária Vai ao Paraíso”, de Elio Petri, que trazem o frescor eterno de um cinema que conseguia ser político, engajado e entreter plateias no mundo todo. Quem teve, ou tiver, a sorte de ver Gian Maria Volontè em momento de graça operária ao som da trilha do mestre Ennio Morricone entenderá por que a classe cinéfila vai sempre ao paraíso toda vez que revê o clássico. Outro capaz de causar epifanias cinematográficas é “Os Companheiros”, de Mario Monicelli, que poderia fazer uma bela dobradinha com “A Classe Operária…” O longa retrata a dura vida dos operários da Itália no início do século 20.
Os trabalhadores de Petri vivem melhor que os de Monicelli, mas continuam lutando por melhores condições de vida. E os de hoje? Estes, mais precisamente “os aposentados”, estão em “No Paraíso”, de Paola Randi, que integra a Mostra Contemporâneos, e agora poderão ser vistos até o início de dezembro no Cinemark Ribeirão Preto. Paola fez sua estreia em Veneza 2010 e mostrou que faz jus à sua herança. Merece, como tantos outros filmes do Bel Paese, ganhar o circuito comercial no Brasil. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Ciclo de Clássicos Restaurados – MIS (Avenida Europa, 158). Telefone (011) 2117-4777. R$ 6. Até 24/11 – www.cinemaitaliano.com.br
IMPERDÍVEIS
“Anos Difíceis”
Luigi Zampa (1948)
“Caminho da Esperança”
Pietro Germi (1950)
“De Crápula a Herói”
Roberto Rossellini (1959)
“Renúncia de Um Trapaceiro”
Francesco Rosi (1959)
“Os Companheiros”
Mario Monicelli (1963)
“A Vontade de Um General”
Francesco Rosi (1970)
“A Classe Operária Vai ao Paraíso”
Elio Petri (1971)
“Roma”
Federico Fellini (1972)
“Parente… É Serpente”
Mario Monicelli (1992)