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Mimo, 14 anos depois, revela a melhor plateia do País

A força da canção de Zé Manoel como oração no altar da Igreja de Nossa Senhora do Carmo. O encontro africano nas cordas do Rajery, de Madagacar; do malinense Ballaké e do marroquino Driss Maloumi. A hiperatividade desconstrutiva do sérvio Emir Kusturica e seu grupo The No Smoking Orchestra. O sábado da edição 2017 do Mimo Festival de Olinda justificaria em um dia a proposta da volta ao mundo em cinco igrejas e uma grande praça, mas houve mais.

A sexta, 17, contou com os destaques do legendário violinista francês Didier Lockwood na Igreja da Sé e, na Praça do Carmo, para um grande público, com o angolano Paulo Flores e sua enérgica banda interafricana e com os colombianos do Ondatrópica, uma euforia coletiva, um projeto que tem colocado o país caribenho em alta na Europa. O pernambucano Otto estava previsto para fechar a edição na noite de ontem, na mesma Praça do Carmo.

Quatorze anos depois de sua primeira edição em Olinda, onde começou o ideal da produtora Lu Araújo em levar a melhor música que ela poderia encontrar pelo mundo para as massas, de graça, já é possível identificar frutos de um trabalho de paciência. Olinda hoje tem um público ímpar, com um nível de respeito e entrega à experiência do concerto sem paralelos no Brasil. Eles lotam igrejas e conventos muitas vezes sem saber o nome dos artistas, mas confiando em uma marca. Ao sentir o respeito do palco, o músico devolve o presente com apresentações comoventes em um ambiente novo também a ele.

A Nossa Senhora do Carmo recebeu uma de suas atrações mais comoventes na tarde de sábado. O paraibano Zé Manoel é um artesão da canção. Pianista que teve informações de Tom Jobim para encontrar sua identidade, ele já tem sido chamado nos bastidores das “sacristages”, como é chamado nas internas o backstage das igrejas, como uma espécie de ‘novo Edu Lobo’. Zé é de uma sensibilidade absurda, um poder de construir um trabalho que remonta às melhores épocas da música brasileira, em letra, harmonia e melodia.

Na sexta, o Ondatrópica fez o mesmo show que mostrou uma noite antes em São Paulo, mas encontrou uma outra realidade. São Paulo já estava engajado, muitos já sabiam as letras de suas músicas. Olinda estava aberta a eles, mas ainda não se entregou. A proposta do grupo é arrebatadora, uma mistura incessante de cumbia, currolao e toda a tradição “que nada tem a ver com o reggaton”, como reafirma Mario Galeano, seu idealizador.

Emir Kusturica foi uma espécie de headliner. Sua música balcânica é explosiva, costurada em sustos, graças e muitos compassos binários. É rock and roll, em última análise, mas com uma imprevisibilidade constante. Seu idioma fica mais fluente dentro de um festival de conceito planetário.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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