Um roteiro que mata o mocinho no fim do filme é decepcionante, mas não se trata de nenhuma novidade. Dependendo do caso – numa história de amor, por exemplo – é recurso certo para arrancar lágrimas das moças e faturar alguns milhões a mais. Ou alguém acha que “Titanic”, de James Cameron, faturaria os mais de R$ 3 bilhões se o bom moço com pinta de vagabundo Jack, vivido por Leonardo DiCaprio, tivesse sobrevivido às águas geladas do Atlântico e vivido feliz para sempre com Rose (Kate Winslet)? Muito provavelmente, não. Mas quando o mocinho é morto a cada oito minutos – repetidamente – no filme, o efeito não é mais o mesmo.

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O escolhido da vez para viver (e morrer) é Jake Gyllenhaal, de “O Segredo de Brokeback Mountain” (2005), com o qual ganhou a indicação de Oscar de melhor ator coadjuvante, e de “Príncipe Da Pérsia – As Areias Do Tempo” (2010). Ele volta hoje às telonas em “Contra o Tempo”, um longa de ação com alguns toques de ficção científica e muitas incoerências.

O ator é o capitão do exército americano Colter Stevens, a serviço na então recém-acabada guerra do Iraque. Sua última lembrança é estar em ação, sobrevoando o território inimigo. De súbito, ele acorda dentro de um trem em movimento, em direção a Chicago. Ele vive oito minutos de confusão mental. Não tem ideia de quem é a mulher sentada à sua frente, Christina Warren, interpretada pela linda, mas pouco expressiva Michelle Monaghan (“Beijos e Tiros”, de 2005), o que estaria fazendo naquele vagão, e tampouco reconhece o rosto estranho que o encara no espelho. Antes de qualquer explicação, tudo vai pelos ares.

Todo o trem explode e Stevens acorda de novo, como se voltasse de um pesadelo ruim. Mas, na realidade, ele participa de um programa ultrassecreto do exército chamado Código Fonte (ou, Source Code, título do longa em inglês). Aí é preciso paciência, porque as coisas começam a ficar (ainda mais) surreais. O tal projeto tem a capacidade de fazer com que Stevens volte no tempo e entre na mente de um outro homem, no caso Sean, para tentar impedir a explosão que é, na verdade, um atentado terrorista. Há, por ironia, uma deficiência do programa. Só é possível “viver” os últimos oito minutos de vida da pessoa.

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Com a premissa explicada, então, já é possível imaginar que, num filme de 93 minutos, Jake Gyllenhaal vá e volte algumas vezes. A cena se repete: o mesmo horário, o mesmo vagão, a mesma conversa, o mesmo café derrubado sobre o sapato. A sequência poderia seguir assim para sempre. E isso explica-se: o capitão Stevens está preso a um tipo de equipamento que o faz repetir a ação de entrar e sair de dentro da mente desse sujeito. Uma a uma, as tentativas de impedir a explosão são frustradas, e voltam a ser repetidas.

A volta desregulada no tempo emula, principalmente, “Efeito Borboleta” (2004), e a invasão da mente alheia, num passado que também pode ser uma realidade alternativa, traz aspectos do recente “A Origem” (2010), de Christopher Nolan. É preciso ir a fundo, no entanto, para comparar o filme de Nolan e a nova produção do diretor Duncan Jones. A noção do que é real, por exemplo, se perde nos dois filmes. Mas enquanto a turma de DiCaprio viaja pelo mundo dos sonhos para mudar o futuro, Gyllenhaal vai ao passado para recriar o presente. Infelizmente, o resultado não é o mesmo. Na falta de construção de roteiro e trama, o longa demora para engrenar e sair de um maçante vaivém. A cada oito minutos. As informações são do Jornal da Tarde.

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