Em entrevista coletiva à imprensa promovida pelo Festival de Dança de Joinville na véspera do espetáculo que abriu a turnê brasileira da Hell?s Kitchen Dance nesta quarta-feira, dia 18 de julho, na maior cidade de Santa Catarina, Misha (como é carinhosamente conhecido o bailarino russo Mikhail Baryshnikov) não escondeu a surpresa com a magnitude do evento: ?Será a primeira vez que vamos nos apresentar para uma platéia tão grandiosa… Estou me sentindo um pouco Mick Jagger??, brincou, referindo-se a uma platéia de quase 5 mil pessoas que esgotou os ingressos no Centreventos Cau Hansen em apenas quatro horas.
Comentando sobre o programa do espetáculo – mudado de última hora em função da ausência de uma das bailarinas, que retornou a Nova York em função da morte do noivo – Misha conta que teve a felicidade de encontrar uma substituição especial para o imprevisto. Coincidentemente, durante sua visita à Escola do Teatro Bolshoi no Brasil, ele surpreendeu-se com o nível técnico da escola e, em especial, com o desempenho de três estudantes adolescentes. Assim, decidiu homenagear a escola e sua origem russa fazendo um convite para o trio se apresentar junto com a companhia. Mônica Gross, 14 anos, Thaís da Silva, 12, e Jovani Furlan, 14, flutuaram num misto de felicidade e ansiedade ao receberem a notícia de que foram escolhidos pelo mestre para apresentar o segundo ato do balé Quebras-Nozes, um pas-de-trois. ?Qualquer escola do mundo se orgulharia de ter um material humano como esse que existe no Bolshoi em Joinville??, comprovou, para orgulho da comunidade brasileira.
Portanto, o programa da noite tão esperada ficou o seguinte: abertura com a peça Years Later (cujo solo de Misha, segundo o próprio, é uma espécie de autobiografia da vida de qualquer bailarino); pas-de-trois com os alunos do Bolshoi; Rom (solo de Willian Briscoe) e Come In (fechamento com o grupo todo dançando). Sobre dançar neste que é o maior solo latino, Misha se diz muito entusiasmado. ?Eu sinceramente nunca pensei que voltaria ao Brasil ainda dançando…??, afirma do alto de seus 59 anos e vigor físico invejável. ?Gosto muito da cultura brasileira e principalmente da música??, citando como exemplos que marcaram sua vida as obras de João Gilberto e Caetano Veloso.
Aposta na criação de um celeiro artístico
Sobre a Hell?s Kitchen Dance, Misha destaca que são bailarinos muito jovens e de grande potencial. Todos estudantes recentemente formados em sua maioria pela Juilliard School e New York University?s Tish School of the Arts, onde a Baryshnikov Dance Foundation tem convênio para fazer audição. ?Interrompemos a turnê de verão para vir ao Brasil. Este é o nosso segundo ano de turnê e provavelmente o último (o primeiro foi nos EUA e o segundo na Espanha). E esta vinda ao Brasil tem um sabor especial, já que a Hell?s não é uma companhia permanente e não sei se faremos mais algum trabalho juntos. Minha idéia é abrir portas, ajudando a promover continuamente novos talentos, permitindo que possam interagir com os principais agentes do meio e enfrentar os primeiros passos da difícil arte comercial, de modo que esses artistas de todas as áreas possam viver do seu trabalho e não como garçons – o que ocorre com a maioria dos bailarinos nos EUA?, afirma. Assim, a proposta do Baryshnikov Arts Center (BAC) é estimular a arte em geral, não só a dança, mas também todas as áreas correlatas de profissionais, como músicos, videomakers, designers, fotógrafos, artistas gráficos e visuais em geral.
Morando há mais de 30 anos nos EUA e em sua quarta passagem pelo Brasil, Misha revela que nos últimos anos está mais interessado em conhecer o que os jovens brasileiros estão fazendo quanto a novos movimentos de dança. ?Vou procurar estudar mais sobre isso e aproveitar a estada no Rio/SP para ter uma visão melhor. Quanto mais danço, menos acho que entendo sobre dança.
A audiência é quem deve julgar o que é novo ou interessante. Como já dancei muito clássico, agora quero me dedicar a novas experiências, por isso o contemporâneo me atrai. Eu recentemente comecei a fotografar as pessoas dançando e agora eu tenho um projeto disso, estou interessado na gênese do movimento e não na forma. Para onde o movimento vai e de onde ele vem…??
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