Renata Petrocelli

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Miguel Magno sempre foi um ator "bissexto" na tevê. Com 30 anos de carreira no teatro, não tem nem 10 novelas no currículo. Mas ele acha que a medida está perfeita, apesar de adorar o retorno do público com relação aos personagens de teledramaturgia. Viver a excêntrica Dona Roma, de A Lua me Disse, só tem aumentado sua certeza. "Chego à conclusão de que só vale a pena assim, com um papel consistente, que reverbera no público. Se é para entregar recado e passar em branco, melhor não fazer", dispara Magno, que agradece a insistência de Miguel Falabella, um dos autores da trama, para que ele interpretasse o estranho personagem.

Na verdade, Dona Roma já "pertencia" ao ator antes mesmo de a novela ser escrita. Na peça Síndromes, também de Falabella e Maria Carmem Barbosa, ela era uma senhora de 87 anos, vivida por Magno, que tinha passado por 27 cirurgias e carregava 38 pinos no corpo. Transposta para a novela, manteve algumas características do palco, mas virou um homem com a bizarra mania de se vestir exclusivamente de mulher. Acostumado a interpretar papéis femininos no teatro, Magno adorou a idéia. E tratou de justificar o hábito do personagem, "nascido" Amoroso Valentim. "Há uma moda chamada cross-dressing, as pessoas se vestem com as roupas do sexo oposto porque encontram prazer nisso. Na verdade, ela não tem sexo, é como um anjo", filosofa, entre risos.

P – Para você, o que é mais difícil num personagem como este?

R –  É a preparação. A maquiagem é um processo longo e cansativo. É preciso tirar todos os traços mais pesados do meu rosto, todas as características masculinas, com várias camadas de maquiagem. Na verdade, demora mais para tirar do que para botar. Ficar parado na cadeira quase uma hora é difícil. Depois que diz o "gravando!", é ótimo, porque a gente faz um teatrinho ali.

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P – Você gostaria de fazer mais novelas do que costuma fazer?

R – Na verdade, tevê você não pode querer fazer. É raro um personagem bom, as coisas mudam de uma hora para outra. Acho bom com um personagem como este, consistente, que tem resultados. Porque tevê é feita para as massas. Se for para passar em branco, melhor não fazer. Quanto ao cotidiano, é massacrante, mas a gente se conforma. Quem não se conforma, não deve fazer tevê. Parte para ser vendedor, dono de pensão, qualquer outra coisa. Vejo colegas que sofrem muito, bufam, reclamam, se estressam.

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P – Você atua, escreve e dirige no teatro, sempre em comédias. Quais são as principais diferenças de se fazer humor na tevê?

R – A diferença fundamental é a quantidade de público. Com a tevê, você atinge milhões de pessoas, enquanto o teatro tem um público restrito, que cresce muito pouco. O tratamento também é diferente. O público de tevê tem com os atores uma intimidade quase de banheiro. Quanto ao trabalho, no teatro você tem tempo de lapidar mais as coisas. Na tevê, você grava e o papel vai para o lixo. Mas vai para o mundo também, e o ator recebe uma porcentagem ridícula por isso. Afinal, a tevê é uma indústria. Ela quer que você venda. Na tevê, você e uma garrafa de Coca-Cola têm o mesmo papel.