Michael Moore dá o que falar em Cannes

O diretor americano Michael Moore divertiu uma platéia de jornalistas no último 17 de maio, em Cannes, quando foi apresentado em concurso “Fahrenheit 9/11”, seu novo documentário.

“Meu filme vai além de ironizar as bobagens ditas por George W. Bush, das mentiras ditas sobre o arsenal atômico de Saddam Hussein, das relações de sua família com as dinastias do petróleo ou seu desinteresse por capturar Bin Laden”, disse Moore.

“Na verdade, não me interessa tanto que Bush não seja reeleito em novembro. O que quero é que se retorne a um sistema de eleição pelo qual seja a maioria dos votantes que escolha o presidente dos Estados Unidos”, acrescentou o polêmico diretor.

“Estamos falando de um presidente que dormiu no volante, que passou os oito meses antes dos atentados contra as Torres Gêmeas jogando golfe, que se declara um presidente guerreiro que continuará bombardeando e invadindo países que não representam nenhuma ameaça ao poderio dos Estados Unidos”, afirmou.

“Fahrenheit 9/11” não tem distribuidor em seu país, pois a Disney proibiu a Miramax que distribuísse o filme em seu nome, mas Moore não quer que o filme seja visto pela televisão: “Ir ao cinema significa reservar bilhetes, contratar uma babá, sentar-se em uma sala de exibição com outras pessoas e dividir com elas uma experiência comum”.

Moore disse que está disposto a ir à Casa Branca para projetar seu filme. “Bush pai projetou meu primeiro documentário, ?Roger and me?, talvez porque seu sobrinho foi meu primeiro ?cameraman?, e sei que Bush filho estava presente”.

“Sei que a oposição a Bush júnior cresce com o aumento das vítimas da guerra no Iraque, mas não estou certo sobre o resultado das eleições porque somos um país dividido ao meio”, declarou Moore.

“Fahrenheit 9/11” é mais contundente que “Tiros em Columbine”

Famoso desde que revelava segredos da General Motors e sua política de desemprego com “Roger and me”, apresentado em 1989 em Cannes, e principalmente depois de ter ganhado pela primeira vez um prêmio para um documentário no mesmo festival com “Tiros em Columbine”, Moore é o símbolo do documentarista-militante, que ataca o poder através da ironia.

“Fahrenheit 9/11” é mais contundente que “Tiros em Columbine” pela atualidade de sua mensagem (a guerra no Iraque) e pela veemência de seus propósitos (impedir a reeleição de Bush) com um filme que não traz as imagens das duas torres, mas concentra a câmera nos rostos das testemunhas, para evitar toda acusação de sensacionalismo.

O que não evita é o humor e a ironia, quando mostra, por exemplo, Bush lendo um livro de contos enquanto os aviões se espatifam contra as torres, jogando golfe enquanto Bin Laden prepara seus ataques terroristas ou disfarçado de pára-quedista durante o ataque ao Iraque.

Moore é o paradigma do documentarista panfletário que não vacila em usar todos os meios de comunicação para revelar o que esses meios muitas vezes ocultam: a arrogância de um poder que é omisso em relação a seus eleitores, ao mesmo tempo em que se proclama paladino da democracia.

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