Michael Fassbender tem um aperto de mão forte – a personalidade, idem. Por onde passa, o ator alemão criado na Irlanda domina o ambiente com a sua consciência corporal e autoconfiança.
Nas telas, seu poder é quase hipnotizador, sobretudo quando ele abraça tipos intensos, ambíguos e desajustados, características que encarna sempre com muita naturalidade.
“Como demorei para conseguir uma chance no cinema, não posso desperdiçá-la com papéis óbvios. Quanto mais complicado o perfil psicológico do personagem, melhor”, afirmou o ator ao jornal O Estado de S.Paulo. A descrição se aplica a Magneto, que ele reprisa em X-Men: Dias de um Futuro Esquecido, em cartaz a partir desta quinta, 29, nos cinemas brasileiros.
Esta é a segunda vez que ele interpreta a versão jovem de Erik Lensherr, antes de o mutante se tornar o temível vilão, conhecido por controlar o metal e interpretado por Ian McKellen nos primeiros filmes da franquia.
A incursão de Fassbender no universo da Marvel se deu em X-Men: Primeira Classe (2011), que resgatou a juventude dos mutantes, quando eles ainda estavam aprendendo a lidar com seus poderes e começaram a fazer as alianças entre si.
“Embora Magneto faça parte de uma série de filmes hollywoodiana, ele guarda as mesmas complexidades que busco nos filmes independentes. Ele é um sobrevivente do Holocausto, um tipo solitário que perdeu a mulher e a filha. Por conta dos poderes, ainda se sente à margem da sociedade”, disse Fassbender, que não contracenou com McKellen, apesar de o novo filme representar uma espécie de cruzamento entre os primeiros títulos dos X-Men com a trama iniciada em Primeira Classe.
James McAvoy e Patrick Stewart, que vivem o jovem e o veterano Charles Xavier, respectivamente, dividem uma cena aqui. “Para passar um tempo com Ian, tive de assistir inúmeras vezes a um workshop do ator, no YouTube, sobre como interpretar Macbeth”, contou, rindo.
Um dos melhores atores de sua geração, Fassbender está sempre no radar de cineastas expressivos. Com o canadense David Cronenberg, rodou Um Método Perigoso’ (2011), no papel do psicanalista Carl Jung. No filme do americano Steven Soderbergh, À Toda Prova’ (2011), ele viveu um agente secreto irlandês com tendências obscuras.
Com o inglês Ridley Scott, filmou tanto a ficção científica Prometheus, na pele de androide com sentimentos confusos sobre os humanos, quanto o thriller O Conselheiro do Crime (2013), encarnando o advogado seduzido pelo sonho de riqueza ao se envolver com cartel de drogas.
“Quando um diretor me chama, seja ele um nome de peso ou não, preciso sentir que ele me obrigará a sair da minha zona de conforto”, afirmou Fassbender, que acabou de rodar um drama sobre triângulos amorosos (ainda sem título definido) com o americano Terrence Malick.
De todos os cineastas com quem trabalhou, quem realmente fez diferença na trajetória do ator foi o britânico Steve McQueen. Antes da sua projeção mundial com Hunger (2008), onde o diretor o escalou para viver o ativista do IRA que morreu na prisão, Fassbender foi barman de várias casas noturnas de Londres.
“A disposição para me arriscar e testar os meus limites num set veio do meu total anonimato. Eu não tinha nada a perder”, lembrou o ator, que emagreceu cerca de 15 quilos (com dieta de 600 calorias por dia) para as cenas finais de Hunger.
“Steve mudou a minha vida. Embora ele seja um cara duro no set, tudo o que faz é com a intenção de encorajar o ator a se lançar totalmente no personagem”, disse Fassbender, que traz mais dois filmes com McQueen no currículo.
Em Shame (2011), seu retrato do executivo viciado em sexo lhe rendeu a Copa Volpi de melhor ator no Festival de Veneza. Em 12 Anos de Escravidão (2013), ele se firmou como ator-fetiche de McQueen, vivendo um fazendeiro que torturava seus escravos – papel que lhe valeu uma indicação ao Oscar de melhor coadjuvante. “Aprendi com Steve que, quando um artista de seu calibre exige mais do ator, você busca forças para dar o que ele quer. Não dá para se acovardar.”