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Mexicanos do Vaca 35 fazem do palco um manifesto pelo acesso à arte

A busca por espaços não convencionais na Cidade do México não é nada difícil. Há 9 anos, sótãos, porões e locais abandonados têm sido alvos das peças da Cia. Vaca 35, dirigida pelo mexicano Dámian Cervantes. A particularidade do trabalho da companhia não é novidade para nós – o Brasil tem ótimos encenadores que manejam bem a poesia longe de palcos e salas de teatro – exceto, talvez, pela intenção da companhia de considerar a obra como um aglutinador de relações tão marcadas pela desigualdade social.

Nesta quinta-feira, 15, o grupo estreia Lo Único Que Necessita Uma Gran Actriz, És Um Gran Obra Y Las Ganas de Triunfar, narrativa inspirada em As Criadas, de Jean Genet, cuja crise de mulheres privadas do convívio social culmina no assassinato da patroa e sua filha. Cervantes afirma que os estudos percorreram a obra do dramaturgo francês, mas que, em certo momento, foi preciso romper com a forma. “Ele já havia ultrapassado sua própria época, e nós compreendemos que a urgência não era apenas encenar um texto de Genet.”

O que se tem, então, é o foco na performance das atrizes Diana Magallón e Mari Carmen Ruíz. Cervantes conta que a peça foi projetada para um pequeno público em uma montagem intimista e originalmente realizada em áreas de serviço e lajes de casas. “Queremos trazer a discussão da exploração de trabalho para perto desses lugares de direito, que não estão às vistas da sociedade e guardam histórias atrozes.”

A montagem, inédita no Brasil, terá apenas duas sessões. A boa notícia é que a companhia também traz, direto de Santos, a peça Cuando Todos Pensabam que Habíamos Desaparecido – Gastronomiaescenica, encenada nos dias 17 e 18. Exibida durante o Festival Ibero-americano de Artes Cênicas, o Mirada, a montagem marca a parceria do México com a Espanha, e agora, com o Brasil. Ambas as peças com legenda.

No elenco, os atores celebram o tradicional Dia dos Mortos, comemoração que não importa tanto para brasileiros, aponta Cervantes. “Faz parte de nós recordar a passagem deles e nesse dia convidar os mortos para compartilhar esse momento.” Ainda que o costume brasileiro de visitar o cemitério no Dia de Finados seja bastante sóbrio, o colorido da festa mexicana encontra diálogo com o estômago do brasileiro. Durante a peça, são preparados diversos pratos, alguns reconhecíveis do público local, como feijão com linguiça, outros bem mais regionais como huauzontles, uma erva, semelhante à planta da quinoa, empanada e mergulhada em molho de tomate. Nos povos astecas, o vegetal era usado como moeda, dado seu alto teor nutritivo e fácil cultivo. “É comida de gente pobre”, ressalta.

Durante a preparação, os atores retomam a força do ritual ao relembrar de mortos anônimos e de figuras históricas de resistência e luta contra regimes ditatoriais em comum. A parceria com o Brasil, marcada pelo trabalho de Rodrigo Fidelis, redundou em nomes como do jornalista Vladimir e da diretora Heleny Guariba. “É um cruzamento cultural entre povos, dado que a comida está tão presente na nossa vida como o poder”, diz Cervantes.

LO ÚNICO QUE NECESSITA…

Qui, sex, 21h.

CUANDO TODOS PENSÁBAM…

Sáb., 20, dom. 19h.

Sesc Pompeia. R. Clélia, 93. Tel.: 3871-7700. R$ 20 / R$ 40. Até 18/9.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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