Não é só no Brasil que as galerias registraram retração nas vendas no ano que passou. O relatório anual divulgado na quarta, 9, pela Tefaf – The European Fine Art Foundation, mostrou que as vendas globais do mercado de arte registraram queda em 2015 – de US$ 68,2 bilhões para US$ 63,8 bilhões. Os EUA confirmaram sua posição como líder mundial desse segmento, respondendo por US$ 27,3 bilhões desse total, equivalente a 43% das vendas em todo o mundo. O país é seguido na lista pela Grã-Bretanha (segundo lugar com 21% das vendas) e China (19% do total). Ou seja, os três países juntos ficam com 85% do bolo.
A China esteve à frente da Grã-Bretanha entre 2012 e 2014, mas o mercado chinês experimenta uma queda significativa nas vendas de obras de arte, que caíram para US$ 11,8 bilhões. A Grã-Bretanha, embora esteja em melhor posição, também registrou retração (as vendas ficaram em US$ 13,5 bilhões), confirmando a estagnação econômica que atinge as vendas em toda a Europa.
Curiosamente, as obras que custam mais de US$ 1 milhão foram muito procuradas nos leilões, embora representem apenas 1% das transações, uma vez que o foco de interesse dos colecionadores milionários continua sendo um seleto grupo de artistas modernos e contemporâneos que sempre dominam as listas dos maiores preços (Picasso, Modigliani e companhia). Vale lembrar que o segmento de peças acima dos US$ 10 milhões cresceu de modo expressivo na última temporada, especialmente nos leilões.
O interesse maior dos compradores e colecionadores recai sobre a produção moderna do pós-guerra e artistas contemporâneos. A venda dos modernos em 2015 teve um desempenho relativamente melhor – é nesse segmento que foram registrados os preços mais elevados, confirmando Picasso e Modigliani como os favoritos e os mais caros, ultrapassando a faixa de US$ 170 milhões (cada um). Mesmo assim, em relação a 2014, a queda nas vendas em 2015 foi da ordem de 20%.
Preparado pela especialista Clare Andrew, que todos os anos faz uma análise do mercado global para a Tefaf, o relatório da conceituada feira europeia não é propriamente pessimista. Naturalmente, os compradores estão mais cautelosos. Nos leilões, 90% das obras foram vendidas por algo em torno de US$ 50 mil (o que no Brasil é razoável e, nos EUA, uma pechincha). É preciso considerar que um mercado que emprega quase 3 milhões de pessoas em todo o mundo não vive apenas de colecionadores milionários, capazes de pagar cifras astronômicas por um Picasso.
E a verdade é, segundo o relatório, que mesmo a queda nas vendas globais não perturbou o mercado de forma traumática. Ele vem crescendo desde 2009, um ano depois da grande crise registrada em 2008. De lá para cá, esse mercado, dominado pela presença das casas de leilão Christie’s e Sotheby’s, teve uma expansão de 64%.
A nova classe emergente na China, que ajudou no crescimento das transações entre 2005 e 2011 (crescimento de 200% no período), parece agora não se interessar tanto por artistas ocidentais como nesse período. Hoje voltada para a arte tradicional, ela prefere comprar cerâmica para a cerimônia do chá a investir em Jeff Koons, por exemplo. A venda de peças de cerâmica e mercadorias similares na China cresceu 26% no ano passado.
Se, na China, a arte tradicional e decorativa ganha mais espaço, na Europa, os velhos mestres ainda não representam ameaça aos modernos e contemporâneos (eles responderam, em 2015, por 9% do mercado de leilões e 11% do total das transações). Entre os modernos, os impressionistas e pós-impressionistas ainda são os que têm maior êxito entre os colecionadores (eles representam 13% do volume das obras comercializadas em leilões). Entre os contemporâneos do pós-guerra, os 10 mais valorizados são Andy Warhol, Francis Bacon, Cy Twombly, Mark Rothko, Lucio Fontana, Roy Lichtenstein, Gerhard Richter, Alexander Calder, Jean-Michel Basquiat e Christopher Wood. O mais caro entre eles é Lichtenstein, vendido no ano passado por quase US$ 100 milhões.
A despeito do americano Lichtenstein, os EUA, que respondem por 38% das exportações e importações de obras de arte do mundo, viram crescer o número de peças importadas da Europa em 2015 em mais de 20% em relação aos primeiros seis meses do ano anterior. Isso justifica o interesse da Tefaf, a exclusiva feira europeia, ter escolhido Nova York para fazer duas edições anuais, concorrendo com feiras internacionais (Basel) realizadas em Miami. Afinal, Nova York é o lugar do MoMA e a residência dos maiores colecionadores americanos.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.