Mesas-redondas têm de tudo, menos informação imparcial

Quando o assunto é futebol, verdadeira paixão nacional, quase todo mundo gosta de dar um "pitaco", fazer considerações e apresentar a melhor "receita" de sucesso para as equipes. Muitos se consideram técnicos tarimbados, sempre prontos a fazer as escalações de um time imbatível, contando com os mais talentosos jogadores disponíveis nos campeonatos. As mesas-redondas da tevê, como não poderiam deixar de ser, bem refletem a "sapiência" dos brasileiros comuns e apaixonados por futebol. Os apresentadores e comentaristas não se furtam em discorrer e emitir opiniões, algumas vezes um tanto histriônicas. Na arena dos acalorados "debates" futebolísticos, todos tentam se mostrar como profundos entendedores e estudiosos do tema.

É o que se pode perceber nas noites de domingo e de segunda-feira, quando vão ao ar essas mesas-redondas. Para conquistar os "telespectadores-torcedores", três emissoras abertas e os canais a cabo de esportes mantêm programas desse tipo. Na Band, Roberto Avallone comanda Show do Esporte Interativo. Na Rede TV!, Fernando Vannucci apresenta o Bola na Rede e, na Record, Milton Neves é o "comandante" do Terceiro Tempo. Já nas segunda à noite, é a vez dos canais a cabo. No ESPN Brasil, Paulo Soares "governa" o Linha de Passe, enquanto Galvão Bueno, quando está no Brasil, apresenta o Bem, Amigos no SporTV. Na sua grande maioria, os apresentadores e comentaristas comportam-se como torcedores nas arquibancadas dos estádios. A imparcialidade acaba indo para escanteio e a ponderação é sumariamente barrada.

 O comportamento exaltado de alguns apresentadores, comentaristas e seus respectivos convidados da semana não é o único ponto em comum. Nos programas das emissoras abertas, por exemplo, há um outro "item" que os tornam bem parecidos. A "orientação" parece ser a de apenas olhar para o próprio "umbigo", numa injustificada demonstração de "bairrismo", o que não acontece com os dos canais a cabo. Embora os três programas sejam transmitidos em rede nacional, os "colóquios" das tevês abertas priorizam totalmente os times de São Paulo – onde estão as sedes de Record, Band e Rede TV! -, enquanto as equipes de outros estados ficam relegadas ao papel de figurantes.

 Outra semelhança entre os programas transmitidos pela Record, Band e Rede TV! é que cada um deles "elege" um jogo obviamente de times paulistas a ser "dissecado". Nessas horas, é a oportunidade de cada um dos comentaristas emitirem suas opiniões e conceitos, contando sempre com o outro lado, o dos jogadores ou técnicos convidados. Mas o que acontece, corriqueiramente, é o clima de arquibancada tomar conta do estúdio. A bagunça acaba sendo geral na arena televisiva do esporte. Todos falam ao mesmo tempo, numa algazarra difícil de ser controlada.

 Mais comedidos são os apresentadores e comentaristas dos programas exibidos pelos canais a cabo, que tentam manter um mínimo de civilidade. Até mesmo o apresentador Galvão Bueno, do Bem, Amigos, não "vocifera" como nas transmissões dos jogos pela Globo. Pelo contrário. Galvão desempenha bem o papel de mestre de cerimônias, mas sem abandonar o abominável hábito de, vez em quando, "puxar o saco" de algum atleta ou treinador. Além do comportamento bajulatório de Galvão, o programa peca ao dar destaque a uma atração musical, que destoa do contexto esportivo. Já o exaltado Jorge Kajuru, do Linha de Passe, por sua vez, tem demonstrado equilíbrio nas suas considerações, o que não acontecia quando era comentarista da Rede TV!. Mesmo assim, em alguns momentos, a algazarra toma conta dos dois programas, tornando-se uma autêntica conversa de botequim. Talvez fosse o caso de serem servidos alguns comes e bebes, além de serem distribuídas cornetas e as bandeiras para os comentaristas-torcedores. 

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