continua após a publicidade

Luiza Dantas

A idéia é ser odiada nas ruas, explica Renata Dominguez.

Nunca Renata Dominguez havia saído de um salão de beleza tão realizada. O motivo da inesperada alegria, no entanto, não foi resultado do trabalho de algum cabeleireiro ou maquiador. Foi pela singela abordagem de duas crianças. A mais nova chegou perto da atriz e gritou "Você é a Branca!", antes de sair correndo. Em seguida, veio a irmã mais velha e completou: "Ela tem medo de você. Eu também não gosto de você, mas não tenho medo. Sei que novela é tudo mentira". Renata conta essa história com um sorriso "de orelha a orelha". Afinal, foi a primeira vez que foi reconhecida por seu trabalho em A Escrava Isaura, da Record.

Esse tipo de abordagem, no entanto, era bem comum quando a atriz interpretava a meiga e romântica Solene, em Malhação, onde ficou por três anos.

Além do fato de ter se mudado para uma emissora de menor visibilidade, a atriz tinha outro receio, aplacado pelas crianças: de ficar estigmatizada como "boazinha", ainda mais que tem "cara de boa moça", com feições delicadas e pele clara. Mesmo convidada por Herval Rossano para viver uma antagonista, ela temia também continuar sendo identificada como a Sol do "folheteen". Agora Renata quer mais. A idéia é ser odiada nas ruas.

continua após a publicidade

Vilanias

Maldades de Branca para isso não vão faltar. A moça se aliou ao cruel Leôncio, vivido por Leopoldo Pacheco, e promete infernizar muito mais a vida de Isaura, de Bianca Rinaldi. Tudo isso porque Branca é apaixonada por Álvaro, papel de Théo Becker, e não admite que ele a tenha dispensado para ficar com a escrava branca. "A vilania da Branca vai deixar de ser apenas verbal. Ela vai partir para a ação", avisa. Há poucos dias a atriz gravou uma cena na qual sua personagem tenta cegar Isaura com uma faca. Segundo Renata, que se diz uma pessoa extremamente calma e pacífica, foi a cena mais difícil que ela fez, pela forte carga de emoção exigida e pela raiva que tinha de demonstrar.

continua após a publicidade

Complicado também foi conseguir "sair" da personagem depois dessa gravação. Renata é do tipo que se entrega totalmente aos papéis enquanto interpreta. "A cena acaba e eu continuo na emoção da personagem. Tenho de tomar cuidado para não levar a Branca para casa", admite a atriz carioca, que está morando temporariamente em São Paulo por conta das gravações. Enquanto está nos estúdios ou em externas, no entanto, Renata insiste em "respirar" a personagem. Os sentimentos de Branca chegam até a influenciar sua relação com os colegas de elenco. Renata faz questão de não se aproximar muito de Bianca Rinaldi. Segundo ela, não ser amiga íntima da intérprete de Isaura ajuda e muito na composição de sua personagem. Renata, inclusive, já avisou Bianca que ela só está sendo fria e distante por causa da personagem.

Ossos do ofício

Embora esteja adorando a experiência de fazer uma vilã, até porque é a chance de se mostrar versátil, Renata reconhece que tem uma certa dificuldade para interpretar Branca, por ser uma personagem muito densa. "Tenho de ficar três vezes mais concentrada, senão já era. A personagem fica irreal", avalia. A complexidade se acentua por A Escrava Isaura ser uma trama de época, com um texto rebuscado tanto na entonação quanto no vocabulário. "Não posso usar as ?muletas? do dia-a-dia, como ?ai?, ?né?, ?tá? e nenhuma gíria", lamenta.

O figurino também cria uma certa dificuldade, por ser pesado e inibir os movimentos. A atriz tem escoliose e sofre com dores na coluna devido ao peso das saias que compõem o guarda-roupa de Branca. Nada disso, porém, solapa a empolgação da atriz com o trabalho. Renata até consegue ver um lado bom de levar duas horas para se arrumar entre maquiagem, cabelo e figurino cada vez que vai entrar em cena. Ela aproveita a ocasião para se desligar da realidade e "mergulhar" no universo da personagem.