Rio
– A festa e a euforia que marcam a realização da 11.ª Bienal Internacional do Livro, que começou anteontem no Rio de Janeiro, deverão contrastar com os resultados da pesquisa Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro referente ao ano de 2002, que vai ser divulgada hoje à tarde pela Câmara Brasileira do Livro (CBL) e Sindicato Nacional dos Editores de Livros (Snel).Em comparação com os números do ano anterior, quando o total de exemplares caiu 10%, mas o aumento dos preços garantiu um faturamento 10% maior, o relatório deverá apresentar cifras semelhantes – as variações ficam por conta das diferenças nas compras feitas pelo governo e quase nada por alterações surgidas a partir de mudanças no consumo.
A alta cotação do dólar, que marcou a economia durante todo o ano que passou, é um dos principais fatores que explicam a estagnação em que vive o mercado de livros, responsável pela movimentação de R$ 2,4 bilhões em vendas anuais, especialmente por conta das aquisições feitas pelo governo e pela forte comercialização de livros didáticos.
E, se em 2001, as editoras de infanto-juvenis e didáticos apresentaram queda nas vendas, no ano passado o declínio mais destacado na quantidade de exemplares vendidos aconteceu entre os livros religiosos, justamente o gênero que havia se destacado positivamente no ano anterior. E o mau agouro parece continuar, pois foi justamente um estande de editora cristã, a Atos, que desabou na quinta-feira, sem deixar feridos. “Houve, na verdade, um aumento no interesse pela ficção”, comenta Paulo Rocco, editor e presidente da Snel.
Como seus pares, Rocco analisa cuidadosamente os números apresentados pela pesquisa, que antes se chamava Diagnóstico do Setor Editorial Brasileiro. Ele não gosta, por exemplo, de apontar a bienal como uma fonte extraordinária de vendas. “É claro que sempre há um aumento durante a feira, especialmente pela curiosidade despertada pela própria bienal”, comenta. “Mas a maior parte da movimentação acontece nas livrarias.” Em todo o caso, a previsão de retorno em vendas entre todos os estandes montados no Riocentro gira em torno de R$ 23 milhões, segundo dados oficiais.
Alguns números são superiores aos demais, como o aumento de editoras participantes (de 808 para 917) e o conseqüente reforço no investimento da organização (R$ 17 milhões, 15% a mais que em 2001). A presença mais destacada é a da Liga Brasileira de Editores (Libre), que, ao unir 55 pequenas e médias editoras, montou o terceiro maior estande da Bienal, onde podem ser encontrados cerca de cem novos títulos. “Também a chegada de editoras estrangeiras, como a espanhola Planeta, é um fator positivo, que poderá repercutir futuramente no mercado”, comenta Rocco.
Celebridades
E é justamente no estande da Planeta que ocorrerão hoje concorridas sessões de autógrafos, com a vinda do poeta Manoel de Barros e da escritora portuguesa Inês Pedrosa, autora de Faz-me Falta, a partir das 17h. Uma hora depois, porém, o público terá a chance de manter contato com o principal convidado da bienal, o anglo-indiano Salman Rushdie, que será apresentado no principal auditório da feira. Por conta de seu livro Versos Satânicos, Rushdie foi condenado à morte pelo aiatolá Khomeini, em 1989, que considerou a obra ofensiva aos preceitos islâmicos.
O fato mudou radicalmente seu estilo de vida – em Londres, onde já morava, o escritor necessitou de segurança constante, a fim de evitar o assédio de alguns dos seguidores do aiatolá iraniano. Somente em 1998 o governo do Irã desistiu oficialmente de levar a efeito a sentença de morte decretada contra ele. “Estou feliz por poder voltar a ser apenas um escritor. É tudo o que eu queria”, disse Rushdie, em sua primeira entrevista coletiva.
Além de Rushdie, que estará lançando o romance Fúria (Companhia das Letras), a bienal programou eventos importantes, como a presença da cartunista argentina Maintena que, às 17h, estará lançando os dois primeiros volumes da série Mulheres Alteradas (Rocco).
Uma nova série de encontros começa a tomar forma também a partir de hoje: Amigos para Sempre vai trazer a cada dia um escritor para falar de um colega que conheceu bem. Assim, a partir das 14h30, Millôr Fernandes vai lembrar histórias curiosas de Sérgio Porto, o Stanislaw Ponte Preta.