Estimado em R$ 5,4 milhões, o mercado editorial brasileiro está entrando em recessão. Segundo a pesquisa Produção e Venda do Setor Editorial, feita pela Fipe por encomenda do Sindicato Nacional de Editores de Livros (Snel) e Câmara Brasileira do Livro (CBL) e anunciada nesta quarta, 3, o crescimento real em 2014, ano base do levantamento, foi negativo: 5,16% menor do que em 2013. A última queda, de 2,6%, havia sido registrada em 2012. Se descontarmos o que se faturou com vendas para o Governo (R$ 1,2 bi) – elas são sazonais – o crescimento foi de 0,86%, já descontada a inflação do período. No ano anterior, o desempenho do mercado foi nulo e o Governo foi responsável pelo crescimento de 1,52%.
“Recessão é quando temos dois anos negativos, mas acho que podemos falar, sim, em recessão porque sabemos que 2015 vai ser ainda mais difícil. O Plano Nacional do Livro Didático é o único obrigatório, os outros programas dependem de dotação orçamentária, e muito provavelmente vamos ver quedas de vendas para o Governo”, explica Marcos da Veiga Pereira, presidente do Snel.
Para Luís Antonio Torelli, presidente da CBL, esta é uma crise da qual o setor não poderia escapar. Mas ele é otimista. “Podemos superá-la formando novos leitores. Fico chateado com esses números, mas temos bons tempos pela frente e algo que temos de fazer é colocar o Plano Nacional do Livro e Leitura para funcionar. Infelizmente, ele só anda para o lado”, disse.
Se o faturamento do mercado editorial brasileiro com os e-books saltou de R$ 3,8 milhões em 2012 para R$ 12,7 milhões em 2013, no ano seguinte ele atingiu a marca dos R$ 16,7 milhões, com o setor de obras gerais liderando a lista com faturamento superior a R$ 10 milhões, seguido por Científico, Técnico e Profissional (R$ 4,8 mi), Didáticos (R$ 1,1 mi) e Religiosos (R$ 313 mil). As editoras que responderam disseram que venderam 1,2 mi de conteúdos digitais. O faturamento com PDF e ePub foi de R$ 16,4 mi e com aplicativos, de R$ 307 mil. Embora em ascensão, o mercado digital representa apenas 0,3% do faturamento das editoras com a venda de livros impressos – incluindo, aí, governo e mercado.
Esses números, no entanto, não dão uma boa amostra do mercado. “Não temos uma base capaz de extrapolar e fazer inferência estatística. Apresentamos os números dados pelas editoras, mas Snel e CBL estão discutindo a contratação de um Censo do Livro Digital em 2016 para conhecer os números reais de 2015”, disse Marcos Pereira.
Diretor também da Sextante, Pereira diz, agora como editor, que o baixo crescimento do mercado de livros digitais no Brasil é muito surpreendente. “Imaginávamos que ele teria mais relevância do que tem hoje. É difícil responder o motivo, já que o brasileiro tem muitos tablets e leitores, mas o crescimento é mesmo muito baixo.”
Voltando ao livro impresso, houve um decréscimo de 0,81% no número de exemplares vendidos para mercado. Para o governo, ele é ainda maior: 9,23%. O preço médio do livro aumentou 1,7%, mas ainda assim ele é 43% menor do que em 2004. Foram produzidos, no ano passado, 19.285 novos títulos, uma variação de -8,54% em relação a 2013. Em número de exemplares, isso representa 90.891.196 mil cópias. As reimpressões são mais expressivas: 41.544 títulos e 410.480.318 exemplares.
Considerando apenas as vendas para o mercado, o segmento de livros didáticos registrou faturamento de R$ 1,4 bi, 10% a mais do que em 2013. O de livros religiosos teve crescimento de R$ 7,3%, fechando o ano com R$ 558 milhões.
Já o CTP cresceu 5,93% e faturou R$ 1,06 bi e o de obras gerais, 4,54% e R$ 1,1 bi. Em volume de vendas, obras gerais encabeçam a lista com 115 milhões de exemplares comercializados. Depois aparecem religiosos (73 milhões), didáticos (57 milhões) e CTP (31 milhões). As editoras venderam, em 2014, R$ 1,17 bi para o governo federal e R$ 62 milhões para órgãos municipais e estaduais.
Segundo Marcos da Veiga Pereira, o que salvou o mercado em 2014 foram os didáticos e não houve, no segmento de obras gerais, nenhum título que representasse 5% ou 10% do mercado, portanto, nenhum fenômeno editorial.
As livrarias (e seu e-commerce) ainda são responsáveis por 60% do faturamento das editoras (para vendas ao mercado). As distribuidoras aparecem na sequência (21,1%), porta a porta (5,38%), supermercado (1,62%), escolas (1,61%), igrejas e templos (1,43%), exportações (1,42%) e marketing direto (1,19%). Há, ainda, outros canais, como empresas, bancas, site da editora, bibliotecas privadas e venda conjunta com jornal, mas com valores inferiores a 1%.
“Torelli e eu trabalhamos com livros há muito tempo. Vivemos muitas crises e de repente passamos por um período de vacas gordas. Com o tripé economia estável, projeto educacional e distribuição de renda o mercado editorial cresce. A crise é passageira. Não há mal que sempre dure nem bem que nunca acabe. Vamos enfrentá-la de cabeça erguida, sendo criativos e procurando alternativas. Se o Governo vai ter papel menor no mercado, vamos ver o que fazemos”, comenta Pereira. “Em outras épocas percebemos que é possível sair da crise. E mesmo com ela vemos, por exemplo, redes de livrarias expandindo”, completa Torelli.
A pesquisa foi respondida por 195 editoras.