O cineasta Fernando Meirelles estava em Londres, selecionando o elenco de “O Jardineiro Fiel”, produção inglesa também alternativa, adaptada do romance de John Le Carré. Ele concedeu uma entrevista por telefone, do seu escritório em Londres, antes de partir para Los Angeles, falou do significado de ser um cineasta brasileiro trabalhando no exterior:
Você, Walter Salles, os mexicanos Alfonso Cuarón e Alejandro Gonzáles Iñárritu filmando fora. É uma nova tendência?
Fernando Meirelles
– Acho que não. Se você pegar a lista do sindicato de diretores americanos vai ver que um grande número, talvez um quarto deles, é formado por gente que começou em seus próprios países e veio trabalhar na América, por causa das melhores condições. Eu não pretendo nunca mudar. Inclusive uma das razões que me fizeram topar esse projeto é que se trata de uma produção independente inglesa.Você recebeu muitas outras propostas?
Meirelles
– Recebi mais de 60 roteiros para examinar. Conversei com os chairmen de todos os grandes estúdios. Mas não é a minha praia realmente. Um dia eu vou querer fazer – para ter a experiência – rodar um filme com um tremendo orçamento, pra ter o prazer de gastar tipo US$ 90 milhões, para ver como é.Dá para manter um estilo pessoal nessas produções ou vocês são obrigados a concessões?
Meirelles – Concessão não tem de fazer, mesmo porque os caras que me convidaram a fazer filmes foi porque gostaram do meu estilo, da minha assinatura. Então, eles querem é mais do mesmo, por assim dizer. Em “21 Gramas”, o Iñárritu mantém totalmente o estilo dele, embora o filme seja falado em inglês. Neste filme que estou fazendo, eu estou entrando devagarinho, mas pouco a pouco estou metendo a mão no roteiro. Dei um pequeno golpe de estado e subverti o esquema em três atos, clássico. Joguei o começo da história para o meio do filme, coisas assim. O roteiro já estava pronto quando eu aceitei, é um filme de mercado, mas mesmo assim dá para colocar a nossa marca.
Como você chegou a esse projeto?
Meirelles – Eu estava em Londres e fui convidado. Acontece que quem ia dirigir o filme era o Mike Newell, de “Quatro Casamentos e Um Funeral”, mas ele foi convidado para fazer o Harry Potter e saiu. Me convidaram para, pelo menos, conhecer o produtor, que é o mesmo dos filmes do Mike Leigh, de quem sou fã. O escritório é no Soho, o cara é encantador, li o roteiro à noite, gostei, resolvi topar.
Está sendo legal como experiência?
Meirelles
– Em especial quanto à produção. O meu projeto pessoal “Intolerância”, se passa em vários países, é complicado, e eu não tenho o know-how para esse tipo de coisa. Até filmar eu saberia, mas tem toda uma coisa de leis, imposto, envio de dinheiro e estou aprendendo muito sobre isso. Então, uma das minhas condições era trazer um produtor brasileiro para aprender. Eu abri o jogo com eles. “Vou fazer o filme de vocês para aprender e poder fazer o meu.” Então o Ari Pini deve vir e acompanhar a produção. Para aprender como se faz.