Anunciado como festival de blues até a medula, e patrocinado pela empresa de eletrônicos Samsung, o Best of Blues Festival, realizado até a noite deste domingo, 11, no imponente teatro do World Trade Center, zona sul de São Paulo, foi um meio festival de blues. Um comportamento que tem causas e consequências e que revela uma triste situação do gênero no País.
Até o final dos anos 90, o blues vivia dias de glória no Brasil, iniciados no finalzinho da década anterior, em 1989, com a realização de um festival em Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, que teve Buddy Guy, Junior Wells, Albert Collins, Magic Slim e Etta James. Um sonho. A cidade era tomada por uma cena particular, com bandas brasileiras fazendo seus próprios festivais e sobretudo dois nomes no front: Nuno Mindelis e André Christovam. Um outro festival grande se ergueu, o Nescafé in Blues, e casas de jazz e blues eram abertas em São Paulo. Uma em especial, a Bourbon Street, em Moema, era inaugurada por ninguém menos do que BB King.
Os anos enfraqueceram o seguimento, as bandas rarearam, os patrocinadores tiraram seus investimentos e o próprio Bourbon teve de abrir sua escalação de grupos para outros gêneros. A única revista de blues da cidade, a Blues & Jazz, diminuiu sua periodicidade.
Hoje, para não correr riscos, o festival que tem um grande patrocinador tentou misturar os mundos para garantir público e não correr o risco de envelhecer sua imagem (já que blues ganhou também essa pecha, de “música para pessoas com mais de 40 anos”).
Uma explicação plausível para que colocassem no evento que tem blues no nome artistas como a cantora Céu, que faz música essencialmente brasileira com sotaques de jovem guarda e algum regionalismo muito bem embalado em arranjos que mesclam música orgânica e eletrônica. O rapper Marcelo D2, Aloe Blacc e o próprio Trombone Shorty, que mais próximo está do gênero por fazer um jazz funk rap de New Orleans, também são mecanismos de defesa de um patrocinador que está tateando um mundo ainda arriscado. O saldo final é um sucesso, já que a cidade, ainda que pela metade, já tem um festival de blues.