Na bolsa de apostas sobre a escolha do vestido de noiva de Meghan Markle, ninguém ousou colocar as fichas na Givenchy, uma das principais marcas francesas. Prestigiar o país vizinho nessa ocasião seria praticamente uma afronta à indústria da moda britânica, não fosse um detalhe: a Givenchy agora é comandada por uma estilista inglesa, a Clare Waight Keller, que em 2017 tornou-se a primeira mulher a ocupar o cargo de diretora artística da marca. Bingo! Quem mais poderia fazer um vestido assim, tão elegante e ao mesmo tempo simples, ajudando a noiva, de quebra, a bater na tecla da sororidade, sem ferir o brio nacional?
Em crepe de seda pura, com corte primoroso, o modelo trouxe um decote canoa aberto, mangas três quartos e silhueta esculpida por seis costuras verticais – elementos bem característicos da marca fundada em 1952 pelo aristocrata Hubert de Givenchy. A saia levemente rodada contou com três camadas de organza de seda. Um vestido, enfim, charmoso, fino, comedidamente sexy – perfeito para ela, que está amando ser vista como um sopro de modernidade, mas não pretende desacatar as convenções que determinam o lifestyle do marido.
Meghan sabe o que é chique, o que é apropriado e o que pode reforçar sua imagem feminista e politicamente correta. Não há espontaneidade em seu guarda-roupa. É tudo calculado. O véu que usou, por exemplo, fez referências à organização intergovernamental Commonwealth, composta por países que integravam o Império Britânico, novo foco do trabalho voluntário dos noivos. Por isso, a estilista Clare estudou a flora nativa dos 53 países dessa comunidade e criou, à partir de diferentes tipos de flores, bordados em fios de seda e organza para enfeitar todo o barrado do véu.
O buquê e a tiara também vieram repletos de simbologias. No buquê, a florista Philippa Craddock homenageou Lady Di, usando suas flores favoritas, conhecidas como não-me-esqueças. As murtas, uma tradição da família real desde 1858, também estavam ali. Já a tiara de diamantes da rainha Mary, avó de Elizabeth II, faz parte da coleção de joias da Coroa.
Em termos de estilo e personalidade, Meghan é, na verdade, uma bênção para a família real, que vê neste casamento uma oportunidade de se mostrar mais aberta e sintonizada com o mundo de hoje.
Filha de Doria Ragland, uma professora de yoga afro-americana, que na cerimônia manteve os dreads presos por um chapéu discreto, Meghan assume o papel de humanitária e ativista sem deixar o guarda-roupa sofisticado de lado. Faz um tipo parecido com o da advogada Amal Clooney, que está sempre impecável e foi a convidada mais chique, de amarelo. Enquanto a cunhada Kate Middleton prefere o estilo gente como a gente (no casamento ela usou pela terceira vez um vestido de Alexander McQueen), Meghan parece focada na imagem das atuais princesas da Disney, cheias de propósito, causas nobres e looks de sonhos.