Tema recorrente em filmes, séries e livros, a máfia ganha contornos diferentes em McMafia, série da BBC que estreia no Brasil nesta segunda-feira, 28, no canal AXN. Dirigida por James Watkins (Black Mirror) e com Caio Blat no elenco, a produção é baseada em uma investigação jornalística e narra o fenômeno de globalização das organizações criminosas.

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Na história, Alex Godman (James Nortan) é um jovem banqueiro promissor. De família russa, mas criado na Inglaterra, leva uma vida confortável: formado em Harvard, tem seu próprio negócio, uma namorada que ama e planos para o futuro. Sua família, no entanto, é plenamente envolvida com o mundo das máfias na Rússia. E seu tio, Boris, termina assassinado por inimigos, na sua frente.

A partir daí, Alex parece não conseguir escapar do seu destino. De um favor em outro, acaba sendo procurado por players perigosos. O mexicano Antonio Mendez, interpretado por Caio Blat, é um deles.

“Antonio Mendez é uma incógnita. Ele não tem nada de mafioso no sentido clássico”, explica Blat. “Ele mora em uma casa na beira do mar, com muitos iates, e ela vive frequentada por artistas, políticos, empresários, crianças e mulheres.”

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As boas aparências não se mantêm. Após um fim de semana de diversão nas paradisíacas praias da Croácia, a convite de Mendez, Alex ganha um ‘presente’ de seu anfitrião: o homem que matou seu tio, amarrado e torturado em um sótão.

“Toda a ideia da série é apresentar a máfia como uma rede internacional, que não existe mais sem essas conexões entre vários países. A máfia, na verdade, é uma franchise”, explica o ator. “Se nos três primeiros capítulos Alex tenta se livrar da ameaça da máfia russa, e acha que consegue, a partir do quarto, ele precisa lidar com o meu personagem, que vem de outro lugar.”

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Global

Antonio Mendez é o primeiro personagem que Caio Blat interpreta em uma série internacional. “Foi um convite direto, da produção de elenco da série, para um teste que estava sendo feito em Londres”, conta o ator. “A produtora disse que estava fazendo um trabalho de pesquisa de atores no mundo todo e, já há algum tempo, estava atrás de mim.”

O domínio do inglês foi fundamental. Na série, Blat está confortável com o idioma e fala, inclusive, com um sotaque bastante britânico. “Eu estudei bastante quando era mais novo, e isso me ajudou a poder assumir o personagem”, explica.

Blat não é, no entanto, o único ator estrangeiro na produção. No elenco principal, estão representantes da Rússia (Aleksey Serebryakov, Maria Vasilievna Shukshina, Kirill Alfredovich Pirogov, Anna Levanova), Suécia (Karl David Sebastian Dencik), Geórgia (Merab Ninidze), Índia (Nawazuddin Siddiqui) e República Checa (Karel Roden).

A convivência com artistas de vários países, afirma Blat, foi “incrível”. “Eram os melhores atores de cada país e, para mim, foi uma honra muito grande estar nesse pacote”, conta. “Foi muita sorte cair em uma produção da BBC, em Londres, com atores do mundo todo e com a equipe que havia acabado de fazer (a série) Black Mirror.”

Para Blat, as séries estão passando por um processo de internacionalização. “Hoje, essas produções são feitas para o mundo todo, e os países querem se ver representados”, comenta o ator. “Uma das características dessas grandes produções é a presença de personagens importantes que são latinos, negros e asiáticos.”

Embora o assunto possa parecer um pouco distante dos brasileiros, Blat está ansioso para a estreia no País. “O Brasil e a América Latina também participam dessa rede, e a série mostra isso de um ponto de vista internacional. Eu estou curioso para saber se os brasileiros vão curtir, se envolver com a história do Alex. Acho que é uma produção que tem tudo para arrebentar aqui também.”

Depois de McMafia, que estreou na Inglaterra em 2018, Blat fez sua segunda atuação internacional no filme Araña, do diretor chileno Andrés Wood (o mesmo de Machuca). O longa foi escolhido para representar o Chile no Oscar.

Livro

Bem recebida no exterior, a série tem como base o livro McMafia: A Journey Through the Global Criminal Underworld que, no Brasil, recebeu o título de McMafia – Crime Sem Fronteiras (Companhia das Letras), do jornalista Misha Glenny. Britânico, ele trabalhou como correspondente na Europa Central para a BBC e, também para o jornal The Guardian.

Inicialmente especializado nas guerras que assolararm a antiga Iugoslávia nos primeiros anos da década de 1990, Glenny publicou McMafia em 2008. No livro, o jornalista explora uma ideia central: a de que as máfias, antigamente com poderes que se restringiam aos países em que operavam, são hoje verdadeiras franquias, de caráter globalizado e internacional.

Glenny, que esteve na Flip em 2008 e 2016, também apontou outros dados. Segundo ele, o crime organizado internacional seria responsável por 15% do PIB Mundial. Atual professor da Universidade do Instituto Harriman, da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, Glenny abordou o crime internacional em seu livro seguinte, Mercado Sombrio (2011), sobre crimes cibernéticos.

Em 2015, Glenny lançou Nemesis: One Man and the Battle for Rio (Nêmesis: Um Homem e a Batalha pelo Rio, em tradução livre), sobre o traficante carioca Antônio Francisco Bonfim Lopes, o Nem da Rocinha. Publicado pela Companhia das Letras com o título O Dono do Morro, o livro foi escrito durante o período de investigação de McMafia e faz, para além de uma biografia, um recorte de 40 anos do Rio.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.