Maytê Piragibe já estava contando os dias para voltar ao trabalho. Por conta de uma indesejável virose, a intérprete da Júlia, de Como Uma Onda, ficou em casa, de molho, por quase dois meses. Chorava em casa que era uma tristeza. ?Eu me sentia impotente, queria melhorar logo?, confessa. Durante o afastamento da atriz, o autor Walter Negrão improvisou uma viagem de urgência. A certa altura, a personagem visitaria o pai, que não via há muito tempo, e seria molestada por ele. Depois de muito pensar, o autor desistiu da idéia. ?Como atriz, adoraria tocar no assunto. Quanto mais conflito, melhor. Mas, para o horário, seria um pouco demais?, acredita a atriz.

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Logo em sua estréia em novelas em O Beijo do Vampiro, de 2002, Maytê já viveu um papel forte, denso. Na trama de Antônio Calmon, Lucinha era uma jovem que fora estuprada na adolescência e que namorava o próprio patrão, interpretado por Celos Bernini. ?Foi difícil para caramba. Mas acho que dei conta do recado…?, arrisca. Em Como Uma Onda, Júlia deixou de sofrer abuso sexual do pai, mas veio a se apaixonar pelo irmão. Ou melhor, pelo quase irmão Querubim, vivido por Dudu Azevedo. ?Gosto de papéis que fogem do óbvio. Não quero ser colocada numa prateleira como um produto qualquer?, argumenta.

Lagoa Azul

Quando soube que interpretaria uma filha de pescadores, a atriz logo teve a idéia de rever A Lagoa Azul, de Randal Kleiser. Por coincidência, os olhos verdes e o ar de ninfeta de Maytê lembram e muito os de Brooke Shields, a protagonista do filme. ?Só se forem os olhos mesmo, né? A mulher é um escândalo de tão linda?, minimiza, modesta. Mas as comparações não param por aí. Muita gente já se espantou também com a semelhança entre Maytê e Maria Fernanda Cândido, que interpreta Lavínia, sua mãe na novela. ?Esse é o maior elogio que podem me fazer?, enrubesce.

Apesar de lisonjeada, Maytê Piragibe não quer ser reconhecida apenas pela beleza. Tanto que já declinou de um convite para mostrar as belas formas no site Paparazzo. ?De uns tempos para cá, o belo virou sinônimo de artificial, superficial, burro até. Por isso, quero provar talento primeiro. Depois, quem sabe, né??, desconversa. Mesmo não aceitando posar para sites sensuais, a atriz já despertou a saliência de alguns admiradores mais afoitos. ?Já recebi cada carta que você nem acredita… Meu Deus, o que leva uma pessoa a escrever um negócio desses? Ninguém merece!?, queixa-se, sem entrar em detalhes.

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Por essas e outras, Maytê não costuma responder às cartas que recebe na Globo. ?Procuro tomar cuidado porque não sei com quem estou lidando. Coisas do tipo ?Ah, eu amo você, quer ser a minha melhor amiga? não rolam, né??, justifica. O assédio do público também causa estranheza à atriz. Por conta do pouco tempo de carreira, ela ainda se assusta quando alguém lhe aborda nas ruas para pedir um autógrafo ou tirar uma foto. ?Como sou meio lerda, sempre acho que há algo de errado comigo. Ou o cabelo está sujo ou a roupa, rasgada…?, diverte-se. Na verdade, Maytê não gosta muito de ver simples mortais transformados em semideuses. ?Se não tomar cuidado, o pessoal perde a noção da realidade e dá uma pirada mesmo. É uma tristeza!?, lamenta.

?Até a morte?

Aos 21 anos de idade, Maytê Piragibe sonha em não parar nunca de atuar. E, se possível, até em morrer no palco. ?Como Cacilda!?, sublinha ela, referindo-se à atriz Cacilda Becker, que sofreu um derrame cerebral durante o espetáculo Esperando Godot, de Samuel Beckett, em maio de 1969. Estudiosa, planeja também tornar-se uma grande diretora, lá pelos 30 ou 40 anos, calcula ela. Antes disso, porém, a atriz sabe que precisa concluir o curso de Teatro, que faz na Faculdade da Cidade, na Zona Sul do Rio. ?Tenho o maior orgulho de dizer que entrei na Globo pela porta da frente. Como não tenho pistolão, só posso contar comigo mesma e com o meu talento?, enfatiza, cheia de si.

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Primeiro papel foi em casa

Todo final de semana, havia show na casa do administrador de empresas Fenelon e da decoradora Teresa Cristina Piragibe. No centro da sala, a pequena Maytê Bernardes Rodrigues Piragibe, então com três aninhos, se revezava nos papéis de figurinista, cenógrafa, diretora e, principalmente, de atriz principal. ?Eu parecia uma minhoca de tanto que pulava. E ai de quem não parasse o que estivesse fazendo para me assistir. Eu ficava possessa!?, lembra ela. Logo, a mãe resolveu levar as filhas Maytê e Mayra, 5 anos mais velha, para fazer testes em agências de publicidade. ?Eu podia esperar o tempo que fosse, que esperava sorrindo. Já a Mayra não agüentava nem meia hora?, entrega.

Não por acaso, Maytê seguiu a carreira de atriz e Mayra, a profissão do pai. Quando completou 7 anos, Maytê mudou-se com a família para Salvador. Na capital baiana, morou por cinco anos, quando, então, voltou para o Rio. ?Sempre fui muito sapeca. Quando jogava bola com os meninos do condomínio, chegava em casa todos os dias com o joelho ralado?, diverte-se. De volta ao Rio, fez Tablado, anúncios publicitários, testes para novelas, até estrear em Malhação, em 2001, onde permaneceu por quase um ano. ?Nesse período, ralei como uma condenada. Gravava todos os dias, o dia inteiro. Mesmo assim, recomendo a quem está começando. Ajuda a tirar o glamour da profissão?, esclarece.

Fã de Fernandinha

# Na época de Celebridade, Maytê Piragibe fez testes para a Sandrinha. O papel, no entanto, acabou nas mãos de Juliana Knust. ?Tenho consciência de que fiz um bom trabalho?, frisa.

# Ainda no ar como a Lucinha, de O Beijo do Vampiro, Maytê Piragibe foi logo convidada para substituir Fernanda de Freitas no comando da TV Globinho. Hoje, as duas contracenam em Como Uma Onda.

# Um dos grandes sonhos de Maytê Piragibe é interpretar uma das muitas personagens do dramaturgo Nelson Rodrigues no teatro. Por enquanto, ela só atuou nas peças teen Beijo na Boca e O Dia em que John Lennon Morreu.

# Fã da atriz Fernanda Torres, Maytê Piragibe confessa que se inspirou em sua musa na hora de compor a jovem Lucinha de O Beijo do Vampiro. Para tanto, viu e reviu o filme A Marvada Carne, de André Klotzel.

# Nas horas de folga, Maytê Piragibe gosta de se refugiar na fazenda da família na Serra da Bocaina, na divisa entre o Rio e São Paulo. Lá, um de seus hobbies favoritos é andar a cavalo. ?Aquele lugar é o meu retiro espiritual?, compara.