Matilde Campilho e Mariano Marovatto discutem o ofício da poesia em Paraty

A diferença entre a visão brasileira e pessimista de Mariano Marovatto (nascido no Rio) e o sotaque luso-carioca otimista de Matilde Campilho (nascida em Lisboa) marcou a mesa 3 da Flip 2015, intitulada A Poesia em 2015, na tarde desta quinta-feira, 2, em Paraty. Mediados por Carlito Azevedo, os dois muito jovens escritores (ambos nasceram em 1982) exploraram aspectos gerais da poesia contemporânea e do próprio ofício da escrita. “Eu vivo muito feliz, e isso é suficiente”, explicou Matilde sobre a questão de se definir poeta profissionalmente. “No meu país, um soneto não paga nem um chopp”, brincou Marovatto.

Ambos estão lançando livros em Paraty: Matilde publica seu primeiro (que saiu antes em Portugal, pela editora Tinta-da-China), Jóquei, pela 34. Marovatto lança As Quatro Estações, pela editora Cobogó, sobre o álbum homônimo da banda Legião Urbana, e também Casa, reunião de poemas, pela Sete Letras.

Doutor em Letras pela PUC-RJ, Marovatto mergulhou fundo nos arquivos do poeta Cacaso (1944-1987), e do resultado de sua tese saiu o livro Inclusive, Aliás, que ele também publica agora pela Sete Letras. “É uma trajetória intelectual dele, e não é uma coisa datada porque nas relações que ele estabelecia com os outros poetas de sua geração podemos ver reflexos na nossa própria geração”, explica.

Matilde, por outro lado, explicou que escolheu não estudar tão a fundo a matéria literária. “Na verdade, eu estava vivendo a vida que a vó que me criou disse para eu viver”, comentou, num sotaque quase carioca. “Ela me dizia: ‘Podes fazer o que quiseres, desde que sejas Matilde'”, disse.

Sobre Jóquei – elogiado pela crítica nos dois países – ela pareceu satisfeita. “Este livro são algumas folhas manchadas de café e coca-cola”, comentou, “mas de repente isso se transforma em ficção e aí vai para o mundo – aí já não é folha suja, já não é meu”.

Misto de versos livres, textos curtos e imagens metafóricas poderosas, Jóquei emite, de fato, uma paixão da poeta pelo poema, como ela mesma explicou em Paraty. “A minha musa é a própria poesia”, comentou. Marovatto, também considerado expoente de sua geração, disse que o caminho para ele é contrário. “Quando deixei de ter medo do amor e ter medo de Deus comecei a escrever melhor”, garantiu.

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