Cristiano Burlan não sabe dizer se é cinéfilo, mas ama ver e discutir filmes com amigos e tem o sonho de fazer filmes até ficar velhinho. O É Tudo Verdade – Festival Internacional de Documentários tem sido uma de suas referências. Anos atrás, ele era garçom e Amir Labaki foi comer no restaurante em que trabalhava. Ele disse ao sr. It’s all True que tinha o sonho de fazer um filme para passar no festival. “Então faça”, Amir lhe respondeu. Em 2007, Burlan mostrou “Construção” no evento. Foi vaiado. “Se você acha que tem o que dizer, não desista”, ele ouviu, a título de conselho, de Amir.

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Burlan não desistiu e, no sábado, 13, saboreou emocionado seu triunfo. “Mataram Meu Irmão”, seu documentário inspirado por uma tragédia familiar, venceu duplamente a competição brasileira do 18º É Tudo Verdade. Ganhou o prêmio da crítica e o do júri oficial. Furlan lembrou essas histórias no Cine Livraria Cultura. Dedicou o filme ao irmão, vítima da violência na periferia de São Paulo. Falou, com simplicidade, da saudade que ainda sente dele. Há seis anos, “Construção” integrou a seleção da 12ª edição do festival com “Santiago”, de João Moreira Salles.

As vaias de 2007 transformaram-se em aplausos calorosos. “Mataram Meu Irmão” é forte, intenso. Como o norte-americano Alan Berliner, de “Primo de Segundo Grau”, e o alemão David Sieveking, de “Não Me Esqueça”, Burlan transforma uma dolorosa experiência de família em algo universal. Indagando-se sobre o envolvimento do irmão com drogas e o roubo de carros, ouvindo parentes e amigos, ele cria uma obra que se pauta pela multiplicidade de pontos de vista para tentar entender a violência que não cessa de fazer vítimas em São Paulo.

O júri oficial, integrado pelos diretores Matias Mariani, Marcelo Machado e Flávia Castro, também outorgou uma menção especial a “Em Busca de Iara”, de Flávio Frederico, sobre a companheira do mítico Lamarca, e o prêmio de melhor curta para “Pátio”, de Aly Muritiba, que aborda o sistema penitenciário do País. O júri internacional, formado por Stig Bjorkman, Peter Wintonick e Susana Sousa Dias, também entregou o prêmio principal e uma menção na categoria longas. O grande vencedor foi o documentário “A Máquina Que Faz Tudo Sumir”, do georgiano Tinatin Gurchiani. A menção foi para “Uma Vez Entrei num Jardim”, de Avi Mograbi, de Israel. O melhor curta foi “Uma História para os Modlin”, de Sergio Oksman, da Espanha (mas o diretor é brasileiro, e sonhava em ter um filme no É Tudo Verdade).

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“A Máquina Que Faz Tudo Sumir” documenta jovens que atendem a um anúncio de filmagem. Por meio deles, o diretor dá seu testemunho sobre o que restou da antiga URSS e o naufrágio do império soviético. Amir Labaki, que comandou a cerimônia de premiação, ainda não tinha os números de público deste ano, mas arriscava num aumento de 15%. Mais público e uma seleção, a internacional, principalmente, melhor do que a de anos anteriores. No ano de sua maioridade, o É Tudo Verdade fez história. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

PREMIADOS

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Melhor documentário brasileiro: “Mataram Meu Irmão”, de Cristiano Burlan

Menção honrosa: “Em Busca de Iara”, de Flávio Frederico

Melhor curta: “Pátio”, de Aly Muritiba

Melhor internacional: “A Máquina Que Faz Tudo Sumir”, de Tinatin Gurchiani (Geórgia)

Prêmio especial: “Uma Vez Entrei num Jardim”, de Avi Mograbi (Israel)

Melhor curta: “Uma História para os Modlin”, de Sérgio Oksman (Espanha)