Em 1994, durante um surto de criatividade, o compositor e saxofonista nova-iorquino John Zorn escreveu cerca de 300 peças que repensavam a tradição musical judaica em um contexto de free jazz contemporâneo. Não eram meras adaptações de escalas do oriente médio a voos vanguardistas, mas sim a concepção de um universo em que nuances da música Klezmer, dos sofridos trejeitos melódicos aos ritmos, foram combinadas com o vocabulário de um saxofonista versado em música erudita do século 20, de Bartók a Cage, delineando estruturas de improvisação a serem exploradas pelos músicos. O resultado foi uma enciclopédia musical conhecida como as composições Masada, batizadas com o nome da banda que Zorn formou para interpretá-las, o Masada Quartet, que toca em São Paulo, no Cine Joia, no próximo dia 17. Trata-se de uma visita ao País de craques do jazz moderno (o trompetista Dave Douglas entre eles) liderados por um ícone do underground nova-iorquino que, nos últimos anos, tem sido canonizado pelos círculos mais tradicionais de música erudita da cidade como um dos compositores essenciais do erudito contemporâneo.

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“John ouviu uma sonoridade muito particular que utilizava todos os nossos talentos”, conta Joey Baron, baterista do Masada. “Ele engrenou e começou a escrever centenas de peças que buscavam aquele som. Quando apresentava a música, ia sempre além, buscando apresentá-la em diversos formatos, com grupos de câmara, bandas de rock ou com o nosso quarteto”, explica.

Reunidas no que Zorn chama de The Book of Angels, a profusão de peças seria a base para uma série de gravações, em diversas combinações musicais, que se destacariam como um dos braços mais férteis da obra de Zorn na década seguinte (de 1994 a 2007 foram cerca de 20 títulos lançados). Uma resenha de um show ao vivo do Masada feita pelo crítico Nate Chinen, do New York Times, comparou as peças a um continente dentro do universo da obra de um compositor prolífico: depois de algumas viagens ao lugar, reconhece-se os sotaques da língua, as variações climáticas, a topografia definida por Zorn. “Em todo esse tempo de estrada, desenvolvemos uma linguagem. É uma coisa que se faz em qualquer contexto musical: você estabelece um molde de comunicação e busca trabalhar com ele sem seguir os outros, sempre trazendo um toque pessoal à música”, conta Joey por telefone da Alemanha, onde faz pit stops entre turnês para compor suas própria obras.

A vinda do Masada Quartet ao Brasil acontece ao mesmo tempo em que a música de John Zorn tem deixado – durante a última década – o downtown nova-iorquino para se estabelecer entre os círculos menos radicais da música erudita contemporânea. O processo tem sido gradual e transformado Zorn de pária em vaca sagrada da música contemporânea. Em 1998, a Filarmônica de Nova York tocou uma de suas peças. No início dos anos 2000, um de seus concerto para violino foi indicado ao prêmio Pulitzer. Em 2006, o compositor recebeu a cobiçada bolsa MacArthur para músicos. “Eu sempre fui o esquisito, o cara que eles chamam quando querem algo bizarro”, contou o próprio ao New York Times, no ano passado. Na ocasião, a sua obra para soprano e orquestra La Machine de l’Être fazia sua estreia na New York City Opera ao lado de obras de Arnold Schoenberg e Morton Feldman, gigantes da música erudita do século 20 que, no mesmo programa, ressaltam o tipo de importância que tem sido dada à música de Zorn nos últimos anos (o Alla Scala, de Milão recentemente mostrou interesse em comissionar uma obra). As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.

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MASADA QUARTET – Cine Joia. Praça Carlos Gomes, 82. tel. 3231.3705. Sábado, 17/3, às 21 horas. Quanto: R$ 50 a R$ 100 (pelo site cinejoia.tv)