Quem vê Taís Araújo em ação na pele da inescrupulosa Ellen, em Cobras & Lagartos, pode até acreditar que tanta futilidade e frieza façam parte da personalidade da atriz. Não à toa, a própria Taís confessa que se delicia com as tramóias de sua personagem para conquistar de vez seu lugarzinho na elite social da novela. Aos 27 anos, a atriz carioca esbanja em seu papel no folhetim das sete da Globo toda a sua "malandragem" e seu "jeito de moleca". E, mesmo tendo princípios bem distintos dos da aspirante a vilã, Taís se impressiona com a obstinação de Ellen para atingir suas sórdidas metas. "É a personagem mais irônica que já vivi em toda a minha carreira televisiva", pondera.
De origem pobre, a frívola vendedora da Luxus, principal cenário da novela das sete da Globo, é uma mulher de caráter duvidoso, completamente cega pelo consumismo, que esbanja falsidade com todos que a rodeiam. Inspirada no estilo sedutor das cantoras americanas de "hip hop", como Jennifer Lopez e Beyoncé, a personagem tinha o tom exato que Taís desejava viver na tevê. Depois da bondosa e sofrida Preta, de Da Cor do Pecado, novela exibida em 2004 e assinada pelo mesmo João Emanuel Carneiro, tudo que a atriz queria era um papel que fosse o oposto de tudo o que havia feito. "Me apaixonei pela personagem logo de cara. E o João foi no ponto certo!", comemora.
A maldade, no entanto, não é o único "ingrediente" que diverte Taís durante as gravações de Cobras & Lagartos. De acordo com a atriz, sua personagem não chega aos extremos da vilania como a Leona, de Carolina Dieckmann, que é capaz de matar alguém para conseguir o que quer. A Ellen é apenas uma mulher obcecada pelo consumo. Mas o gancho da personagem, conta a atriz, está no tom satírico. Que, aliás, tem feito a diferença nas cenas do folhetim das sete da Globo. "Claro que, se ela tiver de fazer algum mal, fará. Mas o João leva sua história muito para a comédia", observa.
E é exatamente na comédia que Taís se destaca. Ao lado de Lázaro Ramos, que vive o azarado Foguinho, a atriz protagoniza diariamente situações hilariantes na novela. As cenas divididas com o ator, inclusive, são o ponto forte da trama. A atriz, porém, não credita tal resultado ao fato dos dois serem casados. Para ela, a explicação está no talento e na dedicação de ambos. "Claro que a intimidade ajuda, mas a química entre atores é uma questão bastante estranha. Algumas vezes funciona, outras não", opina.
Independentemente da tal "química", Taís vê em seu atual trabalho um ótimo momento para derrubar ainda mais os preconceitos e tabus presentes na sociedade. Precursora nesse sentido, a atriz foi a primeira protagonista negra da televisão brasileira, na pele da personagem-título de Xica da Silva, trama de grande sucesso exibida em 1996 na extinta Manchete e reexibida em 2005 pelo SBT. Oito anos depois, em Da Cor do Pecado, foi a primeira negra a protagonizar uma novela na Globo. Taís lembra, inclusive, que a presença dos negros está cada vez mais disseminada nas telenovelas. Diferentemente das tramas mais antigas, quando os atores negros geralmente viviam personagens menores. "Não sou sozinha. O trabalho que o Lázaro está fazendo em Cobras & Lagartos é importantíssimo! Sou de uma geração de atores que vem se destacando", exalta.
Paradoxos paralelos
Embora afirme que não é vaidosa, que odeia freqüentar academias de ginástica e salões de beleza, e que não suporta fazer dieta, Taís Araújo vive atualmente uma rotina que contradiz tal simplicidade. Além de viver a Ellen de Cobras & Lagartos, personagem que se preocupa única e exclusivamente com sua própria imagem, a atriz apresenta no canal por assinatura GNT o programa Superbonita, produção que trabalha temas ligados ao universo da beleza. "Embora traga esses temas, o programa não tem abordagens fúteis. Ali são explorados hábitos saudáveis que as pessoas deveriam ter", defende.
O mesmo panorama, no entanto, diverge totalmente do explorado na novela das sete da Globo. Isso porque a trama de João Emanuel Carneiro discute a questão do consumismo desenfreado e traz na personagem de Taís o retrato da mulher que só pensa em sua aparência. A atriz, porém, garante que nada disso afeta seu cotidiano. Na verdade, ela acha importante trabalhar o assunto para que a sociedade se torne cada vez menos individualista e mais humana. "O João traz sempre muitas críticas em suas novelas. Então, tudo fica muito interessante", elogia.