Avesso a homenagens, Niemeyer adorou esta. “Vem do povo da gente brasileira e, por isso, me comoveu”, diz ele, que tem poucas, mas marcantes passagens pelo carnaval. Em 1981, desenhou carros alegóricos para a Mangueira, que homenageava Juscelino Kubitschek; em 1983, projetou a Passarela do Samba, dando um formato definitivo ao desfile. Desde a inauguração, em 1984, os passistas desfilam longe do público e o gigantismo das escolas vem se acentuando. Mesmo homenageado, Niemeyer não pretende aparecer no sambódromo. “Já gostei muito de carnaval, hoje não posso mais sair à rua como antigamente”, justifica ele, que completa 95 anos este ano.
A Vila, no entanto, é toda homenagens para o arquiteto. Martinho explica que, apesar da tradição cultural do bairro, onde viveu Noel Rosa, Braguinha e onde foi criado o jogo do bicho (pelo barão de Drummond, hoje nome da maior praça da área), não há na região teatro, casas de espetáculo ou sequer um espaço para realizar exposições, só bares que animam a vida noturna. “A nova sede vem suprir essa lacuna, pois vai movimentar a vida cultural da Vila e dos bairros vizinhos”, promete Martinho, presidente de honra da escola de samba e autor de vários sambas campeões. “A obra está orçada em R$ 6 milhões, que vamos tentar conseguir através da Lei Rouanet. Uma construtora, a Andrade Gutierrez, já se interessou numa parceria. Se a gente conseguir o dinheiro, em um ano teremos a sede nova”.
Boa localização
O local escolhido, uma antiga garagem de ônibus, onde os ensaios ocorrem hoje a céu aberto, não poderia estar mais bem localizado. Fica na principal rua do bairro e tem 3 mil metros quadrados. A escola recebeu o terreno depois de perder a sede antiga e ensaiar na rua. As dificuldades a fizeram perder seu lugar entre as grandes agremiações, no Grupo Especial, que desfila no domingo e segunda-feira de carnaval, mas a escola acredita que Niemeyer será o trunfo para a volta definitiva.
Nos planos
A transformação das quadras das escolas de samba em centros culturais não é novidade e está nos planos do novo ministro da Cultura, Gilberto Gil, que visitou duas agremiações no início do mês. Algumas delas, como a Viradouro, a Beija-Flor, a Imperatriz Leopoldinense e a Mangueira já usam o espaço de suas bem montadas quadras como centros comunitários, atendendo à população vizinha. O projeto de Martinho da Vila vai além. “Falta a esta região um verdadeiro centro de cultura, de memória e de formação de mão-de-obra para o Carnaval”, comenta ele. “A nova sede da Unidos de Vila Isabel será tudo isso.”