O mote de Mirandolina, que estreou anteontem, na Mostra Oficial do Festival de Teatro de Curitiba e ontem fez sua última apresentação, é secular: a eterna guerra dos sexos. O embate se faz, na realidade, entre o machismo e o feminismo, permeado pelo jogo do poder e orgulho que cercam as relações entre homens e mulheres.
O grupo curitibano, maestrado pelo diretor italiano Roberto Innocente, incorpora uma releitura de uma comédia de quase 300 anos, do também italiano Carlo Goldoni. A trama se passa no século XVIII, mas bem que poderia acontecer no tempo atual, dados os jogos amorosos que conduzem o fio da história.
A dona de uma pensão, Mirandolina, é cercada de admiradores, que a mimam como podem: presentes, atenção ou servidão são algumas das dádivas a ela concedida pelo marquês de Forlimpompoli, pelo conde D?Albafiorita e pelo devotado Fabrício. Porém a ausência do jogo da conquista e a submissão do trio a fazem estender os olhos ao prepotente cavalheiro Ripafrata, que desdenha as mulheres e se julga intocável pelos ardiz do amor. É o que Mirandolina precisa para iniciar uma batalha que soma o orgulho feminino à necessidade de provar sua capacidade de sedução.
Na construção das personagens, há algumas falhas talvez propiciadas pelo calor da estréia e o pouco tempo de ensaio: apenas 30 dias. O gaguejar em alguns momentos mostra certa insegurança, que por certo com mais ensaios se dilua. O cenário, por mais que se trate de uma hospedaria, confunde os ambientes em que ocorrem as ações e peca pela simplicidade, justificável apenas pela ciência da inexistência de capital de investimento – a peça não contou com apoio financeiro.
A compensação vem nas impagáveis atuações de Leandro Borgonha, o cavalheiro de Ripafrata, de Leandro Daniel, o conde e do marquês, em especial, em show de interpretação de Mauro Zanatta, que dá vida ao falido nobre. Se não é perfeitamente amarrado, o espetáculo ao menos cumpre o papel a que se destina, inclusive alardeado no programa de deleitar a platéia com uma comédia de apelo popular.
