Em uma noite na década de 1980, em Paris, Mick Jagger mexeu com a pessoa errada. O rockstar chamou um músico num canto para lhe dizer que achava João Gilberto “supervalorizado, com aquela vozinha acanhada”. Brasileiro, mineiro de Pirapora, Marku Ribas peitou o vocalista dos Stones para defender o baiano de Juazeiro. “Mick, e você com seu rock? Para o João, isso pode ser algo estranho, só berro e barulho.”

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Se, neste ponto, Jagger mexeu com a pessoa errada, para tocar, escolheu a pessoa certa. Marku, que participara do clipe de “Just Another Night”, em 1984, se tornou o único brasileiro a gravar em disco com os Stones, no ano seguinte, no álbum “Dirty Work”, lançado em 1986. Jagger não era bobo. Àquela altura, já sabia que Marku conhecera Bob Marley no Caribe, na década de 1970, e que ele havia feito shows de abertura para James Brown e Ron Carter.

Bagagem internacional à parte, o cantor, compositor e instrumentista foi um pioneiro na música brasileira em diversos aspectos. Em abril do ano passado, aos 65 anos, sendo 50 deles de carreira, Marku perdeu a batalha contra um câncer de pulmão. Sua obra, porém, segue em evidência. Além de uma série de materiais inéditos que ele produziu nos últimos meses de vida, o músico será homenageado nesta quarta-feira, 18, em um show no Sesc Pinheiros.

O espetáculo foi idealizado pelo sobrinho de Marku, o percussionista Amoy Ribas, que assina os arranjos e a direção musical. Na apresentação em homenagem ao músico que tocou com nomes como Tim Maia, Chico Buarque, Nara Leão, Djavan, João Donato, Wagner Tiso e Emílio Santiago, entre outros, a obra dele será tocada de um jeito que nunca foi feito. O show deixará de lado o poder poético das letras do compositor, engrandecido por seu vozeirão encorpado, para dar enfoque no instrumental cheio de groove, marca de Marku.

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“Vamos tocar a música dele pura, sem letra, sem cantor, respeitando as ideias rítmicas dele. O Marku sempre foi muito plural, tocava percussão muito bem, bateria, compunha, era ator. Dizem que ele foi o inventor do samba-rock, foi o primeiro em muitas coisas que hoje são usuais: a mistura do samba com ritmos latinos, com o funk, ele foi o primeiro a falar em samba-reggae, quando os baianos nem estavam pensando nisso ainda”, ressalta Amoy Ribas.

Para o show, o percussionista convidou amigos não apenas musicais, mas pessoais, de Marku. Entre eles, duas lendas vivas do instrumental brasileiro: o trombonista Raul de Souza e o guitarrista Toninho Horta. Além dos dois, o time ainda conta com músicos respeitados, como o pianista Fábio Torres, o contrabaixista Glauco Solter e o baterista Serginho Machado.

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“O Marku sempre foi uma figura muito marcante no cenário de Minas, tinha aquele gingado, samba com funk, uma cabeça muito aberta. É um cara que deve ser lembrado sempre”, comenta Toninho Horta.

O repertório vai explorar justamente essa “cabeça aberta” de Marku e toda a mistura que ele fez com uma infinidade de gêneros. No setlist, temas menos conhecidos do público, como o ijexá Quem Pede, Pede (parceria com o baixista Luizão Maia), a balada Júlia (feita para a filha de Marku) e clássicos como Zamba Bem e Ô, Mulher.

“Ele foi embora muito rápido, com um potencial fantástico como compositor. Além de misturar muita coisa boa, tinha uma sensibilidade rítmica incrível. Fico contente em participar de um tributo a um cara tão importante”, diz Raul de Souza.

Após o show em homenagem, o compositor tem ainda uma série de materiais inéditos a serem lançados. Depois do box “Marku 50”, em comemoração aos 50 anos de carreira do músico (lançado em 2013), ainda deve sair um songbook com partituras de Marku, feito pela UltraMusic/Neutra Editora, a mesma que fez os de Lô Borges, Beto Guedes e Flávio Venturini.

Também há a previsão de chegar às lojas em breve o disco “+Samba”, com composições inéditas de Marku. Antes de morrer, ele deixou as vozes gravadas. “Era algo impressionante. Ele com aquele cateter, bem magrinho, gravando com aquela vitalidade, eu não acreditava”, lembra Amoy.

Mais dois projetos envolvendo Marku seguem em fase de estudos: um livro de poesias e uma autobiografia. “Ele escrevia aos poucos. Deu um gás e começou a organizar tudo e a escrever mais rápido quando viu que estava doente, mas não chegou a acabar. Ele deve ter escrito até meados dos anos 1980, e a família ainda vai ver o que fazer com esse material”, diz o percussionista e sobrinho de Marku. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

HOMENAGEM A MARKU RIBAS

Teatro Paulo Autran. Sesc Pinheiros. Rua Paes Leme, 195, tel. 3095-9400. Quarta, 21 h. De R$ 6 a R$ 30