Marisa Orth cria mais um exemplar de mulher exibicionista

As “peruas” da ficção sempre perseguiram Marisa Orth. Desde a estréia na tevê, como a pernóstica ninfomaníaca Nicinha, de Rainha da Sucata, em 1990, até a limítrofe Magda, do Sai de Baixo, passando pelo teatro, onde viveu uma tresloucada apresentadora de tevê num espetáculo de sua banda, a Vexame. Talvez por isso, a atriz de 40 anos jura que não teve medo de voltar às novelas com mais um exemplar da espécie, depois de seis anos no humorístico. “No Brasil, somos pródigos neste tipo. Há muitas nuances a explorar”, defende, como se discorresse sobre uma seriíssima teoria científica.

A intérprete da exagerada Van Van, de Agora é que São Elas, faz graça até quando tenta entender por que criou esta “família de mulheres exibicionistas”, como define sua galeria de personagens. “Só pode ser reencarnação!”, diverte-se. “Até porque, na vida, sou tão pouco perua…”, completa, com naturalidade. De fato, não fosse pela presença marcante e pelas falas pontuadas por tiradas irônicas, Marisa até que faria um tipo discreto. A postura “pé-no-chão” e a forma simples de encarar a glamourizada profissão de estrela de tevê são as mesmas que demonstra no programa Saia Justa, do GNT, canal Globosat. Ao lado de Mônica Waldvogel, Rita Lee e Fernanda Young, a atriz muitas vezes faz o papel de “organizadora” das emoções do grupo, embora o posto oficial seja da jornalista. “Acho que sou boa mediadora de conversas”, declara, sem falsa modéstia.

Longe das novelas desde Deus nos Acuda, de 1992, Marisa assume que hoje se sente insegura diante do formato. A ponto de se lembrar de sua estréia, quando caiu de pára-quedas num elenco com Marília Pêra, Regina Duarte e Antônio Fagundes, que vivia seu noivo. Mas, depois do Sai de Baixo, a situação é diferente. “Mudei de patamar”, avalia. Quanto à reedição da dupla com Miguel Falabella, que vive o prefeito Juca Tigre em Agora é que São Elas, a atriz reconhece pelo menos uma grande vantagem. “Fica mais fácil explicar para o meu filho: ?Olha, toda vez que a mamãe trabalha, é casada com este moço?”, pondera a zelosa mãe de João, de quatro anos.

P – Você acha que conseguiu “exorcizar” a Magda, ou ela ainda transparece sob a pele da Van Van?

R – A Van Van me lembra muito mais a Maralu Menezes, uma personagem que fiz com o Vexame. Na verdade, tenho uma família de mulheres exibicionistas por aí. São peruas. E rio muito disso, porque sou muito pouco perua na vida. Mas elas têm muitas nuances. Não se pode comparar uma Dulce Figueiredo, uma antiga perua clássica, com uma Viviane Araújo, uma perua moderna. Não tenho o menor medo de me repetir. Acho a Magda muito característica. No final do Sai de Baixo, ela era quase uma deficiente mental. No começo, era só uma tola, mas no final precisaria andar de mãos dadas com alguém na rua.

P – Ficar tanto tempo longe das novelas fez falta?

R – A novela é uma tremenda instituição brasileira. Até brinquei com minhas amigas, dizendo que não posso mais sair com elas, porque estou “alistada”. A gente se sente prestando um serviço à pátria. E é bom poder voltar a fazer novela com mais segurança, mais prestígio. Vejo um ator jovem falando: “Nossa, estou contracenando com a Marisa Orth!” e me lembro da minha estréia. Mas continuo me sentindo insegura, porque é um formato que não domino. Não só por estar muito tempo afastada, mas porque fico entregue nas mãos do autor, do diretor, do público. Senti diferenças. Nunca tinha visto tanto ator num elenco, tantas cenas no mesmo dia, um nível de acabamento tão bom. Mas tive a sorte de fazer grandes programas. Fiz TV Pirata, o Sai de Baixo, dramaturgia especial. E não tinha um contrato longo com a Globo. Fazia um trabalho e saía para fazer teatro, para montar um espetáculo com a banda. É um jeito que pretendo continuar mantendo. O único contrato longo que tive foi no Sai de Baixo, que me permitia fazer teatro porque era um só dia de gravação por semana.

P – Mas não foi o próprio programa que lhe deu condições de hoje optar por este estilo?

R – Sem dúvida. Com o Sai de Baixo, mudei de patamar na carreira. Foi uma coisa muito sólida. Antes, não podia nem criar uma planta. Com o programa, passei seis anos morando só em São Paulo, trabalhando duas vezes por semana e com estabilidade financeira. Pude casar, ficar grávida, ter o meu filho e criá-lo até quase os quatro anos de uma maneira muito tranqüila. Mas chega uma hora em que esse sucesso se torna aprisionante, monótono. É um equilíbrio delicado. Ao mesmo tempo em que acontece tudo o que a gente sonhou, anos e anos de sucesso com um mesmo programa cansam muito.

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